Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

sábado, 27 de abril de 2013

O nosso fim é ser anjos




O nosso fim é ser anjos
libertarmo-nos do peso do corpo
e ganhar asas
para poder voar

À custa de sofrer
e de amar
e disso tomar consciência
pela ciência
e pelo saber
pelo sopro de Deus
sobretudo
que é o amor

Este o sentido da dor
da verdade
e da castidade

Antíteses do prazer
e da vaidade
que nos  amarram à terra
em que a vida se encerra

Razão de ser de nascer
viver
e morrer

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Siddhartha




Releio Hermann Hesse
sentado à sombra de uma figueira
em tarde quente de Verão
afagado pelo vento suão
que me entorpece

Adormeço

Reacende-se o sonho
de uma vida inteira
que fantasio noite e dia

A doce Kamara solta o sari
voluptuosa
desnuda o peito
rosa
coloca o seu pé direito
sobre o meu pé direito
e convida-me a amar
da forma que as escrituras
chamam de “subir à árvore”

Agora que as mangas já estão maduras
sanguíneas
o sangue ferve
por dá cá aquela palha
e nos ilumina a poalha
do prazer

A sua boca explode num sorriso de sedução
tomo-lhe um seio na mão
e beijo-lhe os cumes róseos
ora um ora outro
e ela começa a entoar canções de amor
sem compasso

Trepamos tronco acima
tronco a baixo
sem jeito
tronco contra tronco
peito contra peito

Acabamos sentados num ramo
lado a lado
abraçados
coabitando com aves e macacos
deliciando-nos com os frutos

Sem asas para voar
nem escada para descer

Apenas com beijos
e mais beijos
e mais desejos
e mais sonhos para sonhar

quinta-feira, 25 de abril de 2013

AS ARMAS DE ABRIL NÃO CHEGARAM A FLORIR



As armas de Abril não chegaram a florir

 

O País está em crise

a Nação sem salvação

 

O Estado foi espoliado

a Pátria expatriada

a República traída

a Língua assassinada

a Democracia pervertida

 

À História roubaram a glória

 

Ouvem-se Álvares Pereira, Gama e Camões

Albuquerque e Vieira

Santo António de Lisboa

Fernando Pessoa

a protestar

 

As armas de Abril não chegaram a florir

 

Há cardos a florear na lapela

dos campeões do regime

democracia do crime

nova ditadura dos donos da fartura

da vida boa e bela

a cantar

e a sorrir

 

E há cravos a cravejar o peito do povo servil

cravados pelo socialismo radical

pelo capitalismo mais vil

os traidores de Portugal

 

Nas ruas da amargura batem os corações

das multidões esfomeadas

injustiçadas

dos sem eira nem beira

a reclamar

 

A cantar um canto de desencanto

em seu peito febril

a jeito de quem diz: retomai Abril!

com verdade e em liberdade

votar já não basta

já de nada vale votar

 

A Bem da Nação, portugueses, gritai basta

votai sim, mas não!

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 8 de Dezembro de 2010

Henrique António Pedro


terça-feira, 23 de abril de 2013

Angústia glandular




Esta angústia silenciosa
que ora por ora me aflige
como se fora uma saudade
dolorosa
com causa desconhecida
poderá nada ser
de verdade
nem passar
sequer
de uma disfunção glandular
aborrecida

Escuso portanto
de me afligir
muito menos de me angustiar

Mas melhor será
ainda assim
fingir
que embora expulso do Paraíso
me encontro de perfeito juízo
e não tardo a para lá voltar
se foi de lá que eu vim

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Amor sem rosto





Não lhe conheço o rosto
nem a voz
nem a cor
Mas tenho-lhe amor

Disfarça a face
nas imagens em que se abre
e se fecha
em segredo

E quanto mais se cala
mais a sua fala
me exaspera
mais dolorosa se torna
a espera
e mais me envolvo com miragens

Sonho súcubo em que me enredo
será que tem alma?
Que é seu o corpo?

Alma tem
que lhe pressinto o sopro
corpo não sei
que ainda o não amei

Será que a amo
e a não conheço
porque a não mereço?

Amar assim resoluto
em pura fantasia
um amor sem rosto
indiferente à dor
apenas indicia
o carácter absoluto
do amor

domingo, 21 de abril de 2013

Amor pretérito passado simples






O nosso amor já não é
Foi!

É pretérito passado simples
simplesmente

Este amor já não é!
Ponto final

Teria sido, fora
quando também tu me amavas!
Pretérito passado composto

Ponto e vírgula

Este amor já não é!
É, ainda!
Pretérito mais que perfeito

Fora sim
amor
se..

Reticências

Este amor já não é!
É!

Presente do indicativo

Agora se cumpre
na memória
plenamente

Com todo o impacto
das coisas boas e más
que subsistem em nossas vidas

Dois pontos

Este amor já não é
Será!

Futuro condicional

Lembrança pura
enquanto dele memória houver

Ponto de interrogação

sábado, 20 de abril de 2013

Amar mais e mais




Os meus olhos
não vêem além do horizonte
e os ouvidos não escutam mais que os sons e os ruídos próximos
fugidios

As mãos não tacteiam mais que a pele de corpos
e a superfície dos objectos

O coração apaixona-se sem sabe porquê
e o cérebro apenas suporta uns quantos cálculos, associações e deduções

O meu espírito angustia-se
e oprime-me a ansiedade
porque não sou livre
porque estou limitado
encarcerado
dentro de mim

A olhar o mundo e o cosmos
por uma estreita fresta
por onde mal passa a luz

Mas o meu espírito anseia por ver mais
tactear mais
ouvir mais
amar mais
e mais
e mais

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Amo-a quando…




Amo-a quando…
a olho
lhe falo
a desejo
a afago
a beijo

Quando grito ao vento
a minha paixão
e sem remissão
lhe declaro o meu amor
para todo o tempo

Amo-a quando
sonho o futuro de sonho
com ela
quando nos amamos
ou sofremos em comum

Quando sinto as suas dores de parto
quando dela me aparto
a sofrer
mas forte bate o coração
e sem razão
sinto medo de a perder

Amo-a quando escrevo versos
sentidos
mas banais
como estes
que
só porque a amo
são para mim
poemas geniais

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Escadas helicoidais




Surgiu-me esta ideia
quando subia as escadas que todos os dias subo
quando me vou deitar

Poderia ter-me surgido ao descer
depois de acordar
o que seria bem mais difícil
porque sempre desço mais atento
aos passos
mais ainda que às ideias
porque maior é o risco de tropeçar
e de cair

Por isso nunca liberto as ideias
ao descer
e antes me seguro ao corrimão
com uma mão
para as não deixar fugir

São umas escadas altas
em madeira de castanho
enroladas
de formato helicoidal
que dão acesso a uma varanda
interior
que
como se vê
também me conduzem por mim a dentro
quando me vou deitar

Sendo que o mais certo
será com alguma coisa sonhar
enquanto durmo
de espírito ao léu

Escadas de sonho
que sempre que sinto sono
subo
como se subisse para o céu

Surgiu-me esta ideia
ao subir as escadas que todos os dias subo
quando me vou deitar

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A poesia é uma farsa






A poesia é uma doce aldrabice
uma momice

Uma mistificação
rimada
declamada
cantada
decantada
e nem sempre bem intencionada

É um paradoxo
uma pirueta
uma falha da razão

Um chorrilho de mentiras
e fantasias

A poesia é uma farsa
em que o poeta
com versos se disfarça

É um caminho não ortodoxo
para a redenção

sábado, 13 de abril de 2013

Amo-a, mas…não gosto dela




Amo-a
mais do que devo
mas…
ainda assim
lhe digo
que não gosto dela

Gostava sim
que ela fosse diferente
ou me fosse indiferente

Gostava de a amar
e dela gostar
tal como é
e como ela quer
mas…
sinceramente
não gosto de dela!

Diz-me ela
que não há mas
nem meio mas
que é puro engano

Ou a amo
e gosto de dela
assim
como é
ou não amo

E que só assim
também lhe gosto
isto é
só assim ela gosta de mim

Pois é
será!
É esse o meu desgosto

Saber que a amo
mas que não gosto dela
e que assim
mão lhe gosto


Amo-a
não gosto de dela
mas…

ainda assim
a quero

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A minha aposta é inundar o mundo de poesia




A minha aposta é inundar o mundo
de poesia

Colher poemas na natureza
e na vida
e lançá-los nos ares
com a devida leveza
para que as aves
as rádios e os jornais
as televisões e as redes sociais
os semeiem nos corações
e a poesia se torne
no motor das multidões

Para que a ninguém falte a paz
nem o pão
no dia a dia
e sempre sinta alegria
em seu coração

Para que a angústia de sofrer
se dilua em melodia
e o desassossego
seja só
o enlevo de viver

E para que assim
a poesia se cumpra
por fim
como augúrio
da nova humana condição

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Luar




Passo um braço pelos teus ombros
com doçura
e tu abraças-me pela cintura

Assim abraçados
e para Sul voltados
as nossas silhuetas recortam-se no luar
sob a abóbada celeste azul
brilhante
ponteada de estrelas
em incessante bruxulear

Dizes-me que gostarias de viajar
até à estrela mais distante
a mim assim abraçada
e perguntas-me em que penso eu

Penso numa estrela mais próxima
cujo coração sinto cintilar
aqui
penso em ti
respondo
inebriado de paixão

A noite ilumina-se com o teu sorriso
abraçamo-nos ainda mais forte
voltados agora um para o outro
cada um para o seu norte
recortando o nosso amor
no luar

terça-feira, 9 de abril de 2013

Nem a mim nem ao mundo






A vida é uma frustração
o cosmos um caos
e o universo
pouco mais que  um verso

O amor
é uma flor
e a Terra
dizem
um paraíso perdido

Dor
é aberração
e sofrer
não tem sentido

Eu
vagabundo
apesar do muito que já vivi
amei
e sofri
continuo sem me entender

Nem a mim
nem ao mundo

Forçoso é viver

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Aqui tão perto de nós, o Além




A vida

não é o momento em que vivemos

começa antes de nascermos

e vai mais além

 

Mas não é além

no horizonte

o Além

 

É já ali

numa avenida da vida

na angústia perdida

aqui

além

ao virar da esquina

da ilusão

 

A norte da morte

a sul da saudade

oriente da esperança

poente da ambição

dança e contradança

do coração

 

Viver e morrer

é destino de toda a gente

infortúnio e felicidade

mentira e verdade

inexoravelmente

 

Todos para lá vamos

ninguém de lá vem

do Além

velhos ou novos

trôpegos

sôfregos

mais velozes que qualquer avião

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 9 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro

 

 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

AQUI…




Aqui, cume do monte dominante
De um reticulado curvilíneo
De colinas moldadas no fascínio
Da alma do poeta diletante

Aqui, nasceu, em mim, a poesia
Pela magia do amanhecer
Com reflexos de fé e bonomia
Que também brilham ao entardecer

Aqui, sempre me quedo, radiante
À hora que o Sol se põe, sanguíneo
Por detrás do horizonte distante

Aqui, face ao Mundo a sofrer
Ao Senhor dos Aflitos eu pedia
Não deixasse, Ele, de lhe valer…


Vale de Salgueiro, domingo, 10 de Agosto de 2008
Capelinha do Senhor dos Aflitos (Alto da Serrinha)