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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

A mulher não é flor que se cheire




A mulher não é teta
nem ventre
nem vagina
nem coxa
nem bunda
ou flor que se cheira

Tudo isso é treta

A mulher é mãe
esposa
filha
tia
irmã
avó
amiga
amante

Ou só cidadã
casada ou solteira

Sem ela
o homem
nem sequer seria

A mulher é amor
é tristeza e dor
alegria e pena
sonho 
poesia
Virgem Maria

O Homem-Deus sem Ela
não existiria

Sem a mulher
o amor 
se acontecesse
não teria sabor
e seria
pela certa
monocolor


in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ápex






Passo horas assim

Quieto

Bem desperto


Em decúbito dorsal

fitando o tecto

do Firmamento

 

A brisa suave que me afaga por fora

transforma-se em vento

por dentro

 

Mesmo com o céu encoberto

embrenho-me em recordações

em dilações do tempo

dou volta ao mundo

 

Suspendo a vida

 

Uma estrela cadente

perdida

passa célere

ante meus olhos

 

Num ápice

mergulho no ápex

arrastando comigo todo o Sistema Solar

 

Até que ouço alguém chamar

a dizer-me que são horas de dormir

a pedir-me para voltar

antes que me perca

 

Mas eu já não estou ali

nem lá

nem além

nem aqui

nem cá

 

Estou inteiro dentro de mim

onde também cabe o Cosmos

 

É de lá que vejo

sinto

e ouço

o mundo que me cerca

 

in “Introdução à Eternidade”

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia)

1.ª Edição, Outubro de 2013


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Dizem que o poeta é demente





Imagem: Fernando Pessoa

Dizem que o poeta é demente
Que não vive neste mundo real
Que, qual esfinge, finge e mente
Que não passa dum louco, afinal

O poeta é um ser anormal
Bem diferente do resto da gente
Embora distinga o bem do mal
É um ser sem maldade, inocente

O poeta pugna pela verdade
Sem obedecer a nenhum poder
Tão-somente serve a liberdade

O poeta louva quem merecer
A si basta a imortalidade
E consolar a quem sente sofrer

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 13 de Setembro de 2010
Henrique António Pedro

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Paixão platónica



Trago o meu pobre coração a arder
É tão triste a minha condição
E tão abrasadora a paixão
Que o desfecho não posso prever

A essa mulher não passo sem ver
Embora forçado pela Razão
A conter-me e a dizer que não
Senão, tudo deitarei a perder

Mas ela, com sorrisos e perfume
Com seu doce jeito de me olhar
Mais não faz que atear mais o lume

Apaixonado, já não sei parar
Como sair deste amor incólume

Sem queixume, sem dor, sem me queimar

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A feia bonita Beatriz



Uma feia bonita
mulher ultriz
é raiz
deste poema
contrito lamento
feérico fonema

Suspeitava que Beatriz me amava
mas eu não sabia
o que comigo se passava

Tonto
disse-lhe que a achava feia

Era só meia verdade
a outra meia
era que muito a estimava

Mas a ultriz Beatriz
de pronto
me fez a vontade

Nunca mais me olhou
nem me procurou
e o meu coração mergulhou

na mais cruel ansiedade

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Dentro de mim não há céus nem infernos



Dentro de mim não há céus
nem estrelas
nem galáxias
nem infernos

Dentro de mim
sob a minha pele
há apenas ossos
músculos
vísceras
veias
nervos
e nada mais

No meu coração flui apenas sangue
e não ódio
ou paixão

No meu cérebro nem uma agulha se intromete
tão pouco o vazio
o nada
de que nada sei

Mas dentro de mim abre-se uma janela larga para Deus
por onde o espírito
entra
e sai
mesmo de olhos fechados
de ouvidos tapados
e de tacto entrapado

Deus mora dentro de mim

e não no céu

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Uma puta qualquer



Habituei-me a vê-la, por ali
com ar convidativo, descarada
no seu “trotoir” chamativo
de carteira a cirandar na mão
debaixo de um pinheiro manso
mesmo à beira da estrada
no frondoso parque de Monsanto
sabe-se lá em que esconso remanso
guardava ela o seu coração

Era jovem, elegante e vistosa
vestia  minissaia cor-de-rosa
blusa transparente cor de salmão
não era uma puta qualquer
era sim, mais uma mulher

Eu passava a correr, ofegante 
nos meus “footings” matinais
mas não lhe falava
nem ela comigo se importava
mais atenta que estava à estrada
de onde vinha o seu ganha-pão

Mas um dia … nunca mais a vi!

Qual não foi o meu espanto
quando soube pelos jornais
que fora encontrada assassinada, por ali
em pleno parque de Monsanto

Comprei uma rosa, com espinhos
da cor da sua minissaia
e quando por lá voltei a passar
pelos habituais caminhos
do meu “footing” matinal
desta vez parei, para lhe falar
como se o fizesse do habitual
para colocar a flor
com respeitoso amor
sobre um tufo espontâneo de feno
e coloridos malmequeres

Dediquei-lhe uma breve e sentida oração
e não resistindo ao impulso blasfemo
que me saiu, directo, do coração
gritei para comigo, entristecido:
- É bem “puta” a vida, para certas mulheres!


in "Mulheres de Amor Inventadas" (Henrique Pedro-2013)


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Aposto que este poema é o mais estúpido



Aposto que este poema é o mais estúpido
de todos os poemas que algum dia foram escritos
embora poemas por escrever
haja aos milhares e a ferver
desejosos de se dar a conhecer
neste ínterim

Poemas à espera de poetas proscritos
que os queiram assumir
sendo certo que em poesia
tudo pode coexistir

Ainda assim
meus senhores
este poema só não será o mais estúpido
se for apreciado por um número suficiente de leitores
alguns dos quais lhe acharão graça
e haja até quem me diga que gosta

Alguém poderá mesmo considerá-lo genial
e então eu concluirei afinal
que maior é a minha desgraça

porque perdi a aposta

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Badaladas desconcertadas do coração




Doze badaladas o coração bate
ao meio dia
como cão a latir

Ruidosas
apressadas
pressurosas
a fugir
a saltar fora do peito
a viver fora de si

Outras doze badaladas o coração bate
à meia-noite
como vento a rugir
fora de tempo

Langorosas
arrastadas
pesarosas
a parar
para morrer
dentro do si

Doze com doze são vinte e quatro
badaladas
desconcertadas
que a vida tem
mais aquelas que o coração bate
no ventre de nossa mãe

Mais aquelas descontadas
se dormimos
ou não sentimos
o coração bater
por ninguém
mundo fora
hora a hora
aqui
ali

além

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Não chores por mim, Argentina!


Não chores por mim
Argentina

Nem digas que vais ficar
para sempre
à minha espera

A ti, eu jamais direi adeus

As lágrimas de amor
e de infundado temor
que vejo luzir em teus olhos
neste meu hesitante partir
sem te dizer se vou voltar
acendem saudades nos meus

Pensa antes, amor
nos molhos de poemas e de flores
que te irei ofertar
já na próxima Primavera

Mas não me digas, por favor
que vais ficar
para sempre
à minha espera
que me deixas desolado
a pensar
que poderei
não poder
voltar
jamais

E eu não quero que seja
assim tão demorado
o teu sofrer

in Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)