O imortal poeta da gesta da lusa gente
morreu na miséria
indigente
Dele me lembrei quando também eu passei
pela Ilha de Moçambique
a mítica ilha do mar Índico onde
Camões
penou de verdade
de mão estendida à caridade
no regresso do Oriente
expoente de desilusões
Ali havia uma estátua de bronze
erigida num recanto sem encanto
que servia de pouso a pássaros
que lhe defecavam na cabeça
embora melhor mereça
Não sei se ainda lá estará
se não jazerá nalgum monturo de inutilidades
nalgum armazém de históricas banalidades
ou ornamentará o lar dalgum nativo
mais imaginativo
que nele encontrou a magia
e o perfume
da poesia
Foi lá
e então
que me ocorreu este poema
embora só agora o dê a lume
porque hoje em dia
na minha desilusão ardem
sentimentos frustrantes
de ser português
e também talvez
por também eu pertencer aos Vaz
de Vilar de Nantes
onde o poeta nasceu
Luís Vaz foi um inútil até deixar de o ser
quando a genialidade da sua poesia
gerou ventos e marés
e construiu autoestradas de sonho
por sobre o mar medonho
Foi um verdadeiro indigente
mais mal pago que um qualquer operário
que com mais acerto, por certo
lavrava a terra ou caiava paredes
Foi um sem-abrigo
semi-anjo
quasi-deus
um extraterrestre sem interesse
a quem o soldo não bastou para regressar
à Pátria que o enjeitou
Poeta e soldado o foi onde havia verdade
sonho, amor, mistério e poesia
que um dia ergueram um Império de Humanidade
hoje em dia sem utilidade
tanto quanto sei
Para onde quer que vás, Luís Vaz…
lá estarei!
Vale de Salgueiro, quinta-feira, 30 de Setembro de 2010
Henrique António Pedro
Também me sinto uma perfeita inutilidade quando a cultura não é reconhecida, abraço poético e parabéns
ResponderEliminarAgradeço a sua visita, distinta amiga Thereza, e a amabilidade das suas palavras. Abraço.
ResponderEliminarFico bastante feliz por poder apreciar este excelente site. Principalmente por se tratar de poesia que eu tanto gosto. Os meus tempos livres são ocupados a ler POESIA... POESIA... e POESIA....Abraço
ResponderEliminarInutilidade tão útil..que seria dos sonhos sem a "iNÚTIL" Poesia...
ResponderEliminarAplauso Henrique Pedro :)
Caro Henrique leio aqui do Brasil o seu texto e me sirvo do mesmo para compartilhar o mesmo sentimento, porém não sem ressalvas, pois devemos entender o fazer artístico também como manifestação e meio pelo qual pode se levar o público, não apenas se entreter com o que é apresentado, mas sim questioná-lo e quem sabe torná-lo cativo e seguidor de sua arte, este por fim poderá ser, não um financiador mas um colaborador para a manutenção do fazer artístico. Embora estejamos em um espaço virtual poucos tiram dele proveito para expor suas ideias e "vender seu peixe" em grande maioria são reflexos dos outros. Camões assim como muitos aclamados pelas Academias e venerados pelo público morreu pobre mas não há como negar a grandiosidade e riqueza de suas obras, temos que tê-los como farol e saber por valor e quando necessário o justo preço ao que fazemos.
ResponderEliminarPois, pois...
ResponderEliminarA inutilidade da Poesia.
Mas é no dizer que não diz
E no fazer que não faz
Que ela está.
Isso lhe basta para ser.
Bom Dia Amigo, também eu andei por essa Ilha de Moçambique, há uns 46 anos, eram então uma miúda que achou a Ilha muito pequenina, mas tinha um Banco e Hospital.
ResponderEliminarGostei do seu poema, todos nós nos identificamos com ele.
Votos de bom fim de semana
Meu caro Henrique Pedro,
ResponderEliminarTambém o Pessoa disse um dia que "os livros são papéis pintados..." e o "ai que prazer, ter um livro para ler e não o fazer". Cito de cor. Mas também o Borges disse que "o céu é um jardim com livros".
A tua poesia, enquanto expressão dos teus estados de alma, começa por te "animar" a ti e acaba iluminando os outros.
Abraço amigo,
Jorge S. Golias
Os poetas - enquanto pessoas muito sensíveis - sentem e sofrem na alma e na carne o que passa ao lado aos ignorantes. Na obra imortal: "O Despertar dos Mágicos", de Louis Pauwels e Jacques Bergier, pode ler-se: "São essas regiões secretas que nos parece útil explorar. E não é um historiador, mas um POETA que nos servirá de guia". Abraço amigo.
ResponderEliminarOs poetas - enquanto pessoas muito sensíveis - sentem e sofrem na alma e na carne o que passa ao lado aos ignorantes. Na obra imortal: "O Despertar dos Mágicos", de Louis Pauwels e Jacques Bergier, pode ler-se: "São essas regiões secretas que nos parece útil explorar. E não é um historiador, mas um POETA que nos servirá de guia". Abraço amigo.
ResponderEliminaré... e se ele não teve e nem tem valor pela terra que enalteceu, imagina nós rsrs bju poeta gostei demais de ler aqui...
ResponderEliminarHenrique,
ResponderEliminarDeixa me viajar na tua autoestrada dos sonhos.
Bj
Nanda
O que conta de verdade, são as sementes lançadas ao vento... nada fica de fato oculto ou desvalorizado. Se uma só pessoa ama o que fazemos: Valeu a pena. Não é a quantidade, o reconhecimento de todos, mas o fruto que caminha nas asas da imaginação e voa livre sobre o céu soberano. Eu, pessoalmente aposto que as obras literárias nunca ficam despercebida. Pois, foram criadas para alguns... talvez, nem vejamos ou tenhamos o conhecimento de quem poderá nos ler, mas depois de feitas são livres como o vento indo e vindo no tempo e no espaço intimado pelo destino. Beijos e muito obrigada pela doce partilha. Akeza que ama a vida e ama você!
ResponderEliminar"Mas que um dia foram Império de verdade"
ResponderEliminarÉ inútil tudo. Entregues estamos, à inutilidade de alguns que nos roubam a esperança, neste império que um dia foi de verdade. Querem nos tirar o sonho, sem que consigam nos capturar a alma, que continua livre e inatingível.
Rasgue-se o coração e nunca as vestes !