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terça-feira, 9 de julho de 2013

A última noite que dormi com ela



Agora sim
sei

Na última noite que dormi ela
ela já não estava mais
ali

Embora tudo tenha feito
para que eu não a pudesse esquecer
jamais

E passasse o resto da vida a sofrer
por ela
rasgando-me esta chaga no peito
que continua por sarar
e a doer
demais

O anjo adorável
que havia sido
até então
meiga
amável
e verdadeira
naquela noite derradeira
transfigurou-se em Medusa
numa permanente companhia intrusa
que me persegue para toda a parte

Numa mulher ultriz
dona de toda a arte
numa matrona
meretriz

Os beijos e abraços
a inebriante sofreguidão
os gritos de prazer
que coroaram o seu último orgasmo
foram só afinal
o estertor do amor
espasmo da paixão
alvor da vingança

Acto sexual que para meu mal
ainda hoje sinto
e oiço
em surdina
me baila na retina
e sempre se insinua nos meus desejos
como brasa acesa na lembrança
tição incandescente
cujas cinzas escaldantes
continuam a escaldar-me

o coração