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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Cigana parida na palha espalhada no chão do curral





Cigana parida 
na palha espalhada 
no chão do curral 
mortalha do porco 
e cama do cão.

Poalha de humana caridade 
de meu tio Daniel: 
-Ajuda aqui Inocência 
traz o caçoulo da água benta 
e uma toalha 
que vamos batizá-lo cristão

-Ai Jesus que rapagão 
-Que nome lhe vamos por?


E a cigana Santa ri de alegria 
e um tudo-nada de dor 
- Daniel “comósenhor”! 
Fora mulher e seria Inocência


-Então será Daniel como eu! 
E que bem-dito seja!

E Daniel Comoeu 
cigano livre como o vento 
que vindo de Espanha 
sopra por toda a Montanha 
como eu afilhado 
de minha madrinha Inocência 
e por meu tio Daniel bento 
voa hoje Europa fora 
agora com passaporte 
de crédito e sorte 
derrubando fronteiras uma a uma 
sem raias de ignomínia 
a salto da fortuna.

Rico como porco defunto 
amortalhado na mesma palha 
espalhada no chão do curral 
quando o frio e a geada 
curam o presunto 
curtem coiros e carnes 
e apuram as almas 
deslavadas de mal


In  Minha Pátria Montanha (Ver o Verso Edições – Dezembro 2005).