Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Quando a alma nos cai aos pés





Alguém como eu condenado às galés
e que seguia à minha frente
por um caminho empedrado
inadvertidamente
deixou cair a alma
aos pés

Tilintou
saltitou
e acabou por se ocultar
sem se partir
como se fora um berlinde de cristal
incandescente

Em redor não se via vivalma
e não adveio daí
outro mal
ao mundo

Alguém que seguia a meu lado
por um caminho relvado
deliberadamente
deixou cair o coração
soltando-o da mão

Ouviu-se um baque surdo
e ali ficou plasmado
como se fora um pastel ensanguentado
vivo
a latejar

Alguém que vinha atrás de mim
por um caminho enlameado
irreflectidamente deixou cair o cérebro
no chão
por erro de lógica
sem razão

Fez plof!
Ainda esbracejou
como se ensaiasse nadar
mas acabou por se afundar
e ali ficar atolado
com a consciência à tona
por algum tempo
como se fosse uma azeitona
enquanto a memória
diluída no vento
apodrecia na História

O primeiro Alguém iluminou-se
sem combustão

O segundo apaixonou-se
ardeu
sem compaixão

O terceiro enlouqueceu
ninguém lhe valeu
restaram os ossos

Eu segui em frente
por entre, cacos e destroços
à procura do meu berlinde irisado
que andará por aí
perdido em qualquer lado
a cair sem se partir

Quando a alma nos cai aos pés
partimo-nos todos
espalhamo-nos
cada bocado para seu lado

Só nos levantamos por inteiro
se recuperamos a alma
primeiro
mesmo se perdemos a razão
e o coração