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sexta-feira, 8 de março de 2013

Eunice (A paixão segundo Platão)




Sentei-me de costas para o Sol

sob o caramanchão de buganvílias perfumadas

com ideias estudadas

projectando em Eunice

que me olhava de frente

a sombra da minha paixão

 

Assim seus lábios carmim

melhor se abriam para mim

acesos em desejos de beijos

embora o seu olhar de deusa

a sua voz maviosa

o seu rosto cor-de-rosa

irradiassem apenas pureza

 

Líamos o Livro VII da República

retendo-nos no Mito da Caverna

em procura de uma interpretação moderna

original e amorosa

 

Foi assim que encontrei uma leitura diferente

vendo Eunice  reclinada

bela

sentada à minha frente

 

Inspirado pela luz da sua formosura

certamente

que nenhum prisma passional refractava

e que me iluminava

com ternura

enquanto que a sombra

que eu sobre ela projectava

não vinha directa do Sol

tinha origem em mim

 

Era o reflexo da minha paixão

o revérbero do meu amor-próprio

refractado em todas as cores

do espectro do egoísmo

e que se irisava de desejo

ciúme

vaidade

posse e domínio

 

Mas de Eunice eu recebia

a luz pura do Amor

e da Verdade

que trespassava a limpidez do seu coração

por isso Eunice

não entendia bem

Platão

 

Não lhe revelei os meus pensamentos

na altura

para não ter de a fazer corar

e para eu não me envergonhar

de tão ousada inventiva

 

Por isso só agora

que já me não liga a Eunice o desejo

que só raramente a vejo

e já não projecto nela  a minha sombra lasciva

mas a amo de verdade

lhe remeto esta poesia

 

Certo de que a receberá ainda a tempo

de ensinar aos seus alunos de filosofia

que a luz de que Platão falava

na sua genial alegoria

era a luz do Amor

 

Enquanto que a paixão

é a sombra do amor-próprio

a ilusão

irisada

refractada

nos prismas do coração

 

in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª edição Nov2013)


quarta-feira, 6 de março de 2013

Uma paixão virtual





Separados por um mar tão largo
e tão profundo
podemos apaixonarmo-nos livremente
e amar-nos à vontade
que daí não advirá nenhum mal
ao mundo

Quando muito um desgosto só
uma saudade abstracta
que dói
mas não mata

Podemos mesmo chorar
gritar
esbracejar à vontade
que os gritos serão levados pelo vento
os gestos se perderão na distância
e as lágrimas não passarão de gotas
no oceano no nosso descontentamento

E se acaso nos apoquentar a tentação
de tomarmos o primeiro avião
e voarmos sobre o oceano
ao encontro um do outro
então…

Terminarei o poema depois
para que não subsista qualquer equívoco
ou engano
porque o mais certo seria voarmos
em voos desencontrados

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segunda-feira, 4 de março de 2013

Sou o coração com que amo




Sou palavra

sou prosa e sou poesia
sou grito e afasia

Sou verdade e sou mentira
sou mal e sou bem
sou aqui e sou além
sou a minha consciência
e a consciência de mim
não sei quem sou
ainda assim

Sou rosto e sou espelho
objecto e imagem
realidade e miragem

Espelho que a si se reflecte
calor que a si se aquece
vida que a si se dá
pão que se alimenta
fé que se sustenta
luz que se alumia
de noite ou de dia

Sou rosto e sou espelho
objecto e imagem
fastio e desejo
realidade e miragem
por isso me não vejo

Sou o coração com que amo
e o amor que me tenho
sou angústia e sou esperança

Sou um ser em revelação
feito à imagem de Deus
embora sem semelhança

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domingo, 3 de março de 2013

O que mais me agrada olhar




Perguntas-me
a pensar em ti
o que mais me agrada
ver

Respondo-te
olhando-te
sem nada te dizer
que o que mais me agrada olhar
é o azul cerúleo dos lagos
orlado do verde viçoso dos vales
em contraste com o azul-escuro das montanhas

Abrilhantado pelo azul diáfano do céu
com tufos de nuvens brancas a flutuar na atmosfera
e a alvura da neve resplandecendo nas cristas
quando a luz do sol tudo ilumina

Aprecio sobremaneira o luar
e o brilho das estrelas
a luminosidade do teu olhar
o brilho fulvo da tua cabeleira
esvoaçando neste cenário
imaginado

Aprecio tudo
aprecio-te a ti
sobretudo
quando te olho e sinto de verdade

Sobretudo
quando tudo
se envolve em espiritualidade

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sexta-feira, 1 de março de 2013

Porque renunciou, o Papa?!




Porque o Papa renunciou terá sentido recordar, aqui e agora, o poema “Que renuncie. O Papa!” que escrevi em 8 de Abril de 2010 e que se encontra no Youtub (http://www.youtube.com/watch?v=mBrGJxaYeGo) desde essa data, por amável deferência da poetisa Vóny Ferreira, que o declamou e de Pipinhaferreira que produziu e carregou o vídeo.
Nunca tive, nem tenho, a veleidade de que o Papa o tenha lido ou venha a lê-lo. Não obstante, enquanto crente criticista, aqui expresso a minha homenagem a Joseph Alois Ratzinger pelo seu gesto de renunciar, que à partida qualifico de luminoso e que o poderá levar aos altares; ou à mediocridade, se acaso a História vier a evidenciar causas mais sombrias. Desejo veemente, contudo, que o Papa Bento XVI, por este seu acto, venha a ser consagrado um moderno Santo Doutor da Igreja.


Que renuncie. O Papa!

O crime mais hediondo
A mais abjecta animalidade
A mais vil desumanidade
O vício mais repugnante
A pior pornografia
O pecado mais aberrante
A mais gravosa ofensa à Fé
Aí está:
A pedofilia!

E é facto de facto não localizado
Largamente generalizado
Até
No seio da própria Igreja!

Durante anos encoberto
Disfarçado
Tolerado
Mas que não mais se atura

E por mais isenta e imaculada que seja
A pessoa do Papa
Por mais sábia
E esclarecida a criatura
Deve auto-imolar-se
Sacrificar-se

Para que a Igreja
A si mesma se purifique
Que o Papa a si próprio se crucifique!

Para que a Humanidade se redima
Sem que Jesus Cristo de novo
Seja imolado
Crucificado

Para que o povo
De Deus
Que O ama e estima
Nestes tempos dementes
De choro e ranger de dentes
Na Igreja se reveja

Que renuncie. O Papa!


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 8 de Abril de 2010
Henrique Pedro