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domingo, 17 de março de 2013

Sempre que Deus trabalha fora de horas




 Sempre que Deus trabalha fora de horas

Sempre que Deus trabalha fora de horas

a reescrever o poema da Criação

à luz das velas que são as estrelas

também eu sinto e pressinto

em meu coração

que a divina meditação

se reflecte em mim

 

A noite cai em silente silêncio

pura quietude de feérica beleza

um manto de virtude intemporal

estende-se por sobre a Natureza

e o Firmamento brilha

de um brilho sobrenatural

 

Pela janela do Cosmos

que o Criador deixa entreaberta

sopra o vento do sofrimento da Humanidade

orações de mil corações

que fazem as estrelas bruxulear

 

Acalma-se então a alma de uma doce soledade

o espírito voa Universo fora

toma conta da razão o doce dilema da inspiração

acende-se uma vela de verdade na eternidade

 

É a hora a que o poeta desperta

e começa a sonhar

um sonho inexplicável

 

E acrescenta pela mão de Deus

um verso simples dos seus

ao poema admirável da Criação

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 16 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro


in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)


 

 

terça-feira, 12 de março de 2013

Que seja já amanhã o futuro




Males e vícios
perdem-se
na origem dos tempos

As virtudes
já só se encontram
nos confins do futuro

O presente
exacerba-se

Sinais claros
de que a Civilização caminha
para o fim

Que seja já amanhã
o futuro

E o passado
logo depois

Ou melhor será
olvidar

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domingo, 10 de março de 2013

Sou poeta porque sou um homem só




No sentido em que tenho um mundo imenso
dentro de mim
que é só meu
em que toda a minha vida se concentra
e onde ninguém entra
sou poeta porque sou um homem só

E porque é este mundo que eu quero dizer aos outros
por poesia
sou poeta porque sou um homem só
embora tenha milhares de amigos
leitores e admiradores
viva feliz
e bem acompanhado

Por isso me expresso por mil poemas
metáforas
dilemas
uso heterónimos
exorcizo demónios
visto a pele de heróis imaginários
imagine amores
amantes
e fadários

Sou poeta
porque sou um homem só
um cavaleiro andante
no reino da fantasia

A palavra é a aminha lavra
a poesia a minha lança
rutilante

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sexta-feira, 8 de março de 2013

Eunice (A paixão segundo Platão)




Sentei-me de costas para o Sol

sob o caramanchão de buganvílias perfumadas

com ideias estudadas

projectando em Eunice

que me olhava de frente

a sombra da minha paixão

 

Assim seus lábios carmim

melhor se abriam para mim

acesos em desejos de beijos

embora o seu olhar de deusa

a sua voz maviosa

o seu rosto cor-de-rosa

irradiassem apenas pureza

 

Líamos o Livro VII da República

retendo-nos no Mito da Caverna

em procura de uma interpretação moderna

original e amorosa

 

Foi assim que encontrei uma leitura diferente

vendo Eunice  reclinada

bela

sentada à minha frente

 

Inspirado pela luz da sua formosura

certamente

que nenhum prisma passional refractava

e que me iluminava

com ternura

enquanto que a sombra

que eu sobre ela projectava

não vinha directa do Sol

tinha origem em mim

 

Era o reflexo da minha paixão

o revérbero do meu amor-próprio

refractado em todas as cores

do espectro do egoísmo

e que se irisava de desejo

ciúme

vaidade

posse e domínio

 

Mas de Eunice eu recebia

a luz pura do Amor

e da Verdade

que trespassava a limpidez do seu coração

por isso Eunice

não entendia bem

Platão

 

Não lhe revelei os meus pensamentos

na altura

para não ter de a fazer corar

e para eu não me envergonhar

de tão ousada inventiva

 

Por isso só agora

que já me não liga a Eunice o desejo

que só raramente a vejo

e já não projecto nela  a minha sombra lasciva

mas a amo de verdade

lhe remeto esta poesia

 

Certo de que a receberá ainda a tempo

de ensinar aos seus alunos de filosofia

que a luz de que Platão falava

na sua genial alegoria

era a luz do Amor

 

Enquanto que a paixão

é a sombra do amor-próprio

a ilusão

irisada

refractada

nos prismas do coração

 

in Mulheres de Amor Inventadas (1.ª edição Nov2013)


quarta-feira, 6 de março de 2013

Uma paixão virtual





Separados por um mar tão largo
e tão profundo
podemos apaixonarmo-nos livremente
e amar-nos à vontade
que daí não advirá nenhum mal
ao mundo

Quando muito um desgosto só
uma saudade abstracta
que dói
mas não mata

Podemos mesmo chorar
gritar
esbracejar à vontade
que os gritos serão levados pelo vento
os gestos se perderão na distância
e as lágrimas não passarão de gotas
no oceano no nosso descontentamento

E se acaso nos apoquentar a tentação
de tomarmos o primeiro avião
e voarmos sobre o oceano
ao encontro um do outro
então…

Terminarei o poema depois
para que não subsista qualquer equívoco
ou engano
porque o mais certo seria voarmos
em voos desencontrados

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