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sexta-feira, 22 de março de 2013

Anamnese




Há um quadro inclinado
dependurado
no mural da minha memória
que me apraz deixar assim
empoado
contrastando com as colunas jónicas
que alicerçam a lembrança

Um evento supenso no tempo
uma efeméride efêmera

Uma quimera
de que já nada se espera

Um amor que se diluiu em dor
até se esquecer

Um afecto pendente
para sempre
a fazer-me lembrar que a história
se não faz de memória
mas de esquecimento

Esquecer não é apagar da recordação
é varrer do coração

Anamnese é a exegese
de uma paixão

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quarta-feira, 20 de março de 2013

A Poesia é a coisa mais reles que existe





Não dorme
não come
não descansa

Dança noite e dia
passa de mão em mão
num permanente afobo
vai para a cama com toda a gente
e anda na boca do povo

Então agora com esta coisa de Internet
é um desaforo
é demais

A coisa mais reles que existe
é a poesia

A toda a hora ela aí está
a saltar de continente
para cá e para lá
entre portugueses e brasileiros
e outros forasteiros
tudo gente demente

Tenham dó!

São milhares que se envolvem
com as poesias
e se entregam a confidências
dislates
disparates
até a traições matrimoniais, vejam só!
e a outras tantas fantasias

É demais!
A coisa mais reles que existe
é a poesia

Se a poesia fosse mulher
eu casava com ela

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terça-feira, 19 de março de 2013

Ando passeando a minha angústia pelos campos




Ando
passeando
a minha angústia pelos campos

Esta angustura constitucional
que me amargura
sem saber de onde vem

Caminho
tentando encontrar a causa
dentro de mim
e mais além

Terá origem endrócrina
química
alguma glândula que esteja a funcionar mal?

Será um vento cósmico
um sopro divino
no meu destino?

Sei lá!

Nem me importa
por ora
saber
ser poeta é viver
nesta condição
de angústia global

No dia em que deixar de a sentir
por certo
irei
parar

Para morrer
ou me salvar

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domingo, 17 de março de 2013

Sempre que Deus trabalha fora de horas




 Sempre que Deus trabalha fora de horas

Sempre que Deus trabalha fora de horas

a reescrever o poema da Criação

à luz das velas que são as estrelas

também eu sinto e pressinto

em meu coração

que a divina meditação

se reflecte em mim

 

A noite cai em silente silêncio

pura quietude de feérica beleza

um manto de virtude intemporal

estende-se por sobre a Natureza

e o Firmamento brilha

de um brilho sobrenatural

 

Pela janela do Cosmos

que o Criador deixa entreaberta

sopra o vento do sofrimento da Humanidade

orações de mil corações

que fazem as estrelas bruxulear

 

Acalma-se então a alma de uma doce soledade

o espírito voa Universo fora

toma conta da razão o doce dilema da inspiração

acende-se uma vela de verdade na eternidade

 

É a hora a que o poeta desperta

e começa a sonhar

um sonho inexplicável

 

E acrescenta pela mão de Deus

um verso simples dos seus

ao poema admirável da Criação

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 16 de Outubro de 2008

Henrique António Pedro


in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)


 

 

terça-feira, 12 de março de 2013

Que seja já amanhã o futuro




Males e vícios
perdem-se
na origem dos tempos

As virtudes
já só se encontram
nos confins do futuro

O presente
exacerba-se

Sinais claros
de que a Civilização caminha
para o fim

Que seja já amanhã
o futuro

E o passado
logo depois

Ou melhor será
olvidar

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domingo, 10 de março de 2013

Sou poeta porque sou um homem só




No sentido em que tenho um mundo imenso
dentro de mim
que é só meu
em que toda a minha vida se concentra
e onde ninguém entra
sou poeta porque sou um homem só

E porque é este mundo que eu quero dizer aos outros
por poesia
sou poeta porque sou um homem só
embora tenha milhares de amigos
leitores e admiradores
viva feliz
e bem acompanhado

Por isso me expresso por mil poemas
metáforas
dilemas
uso heterónimos
exorcizo demónios
visto a pele de heróis imaginários
imagine amores
amantes
e fadários

Sou poeta
porque sou um homem só
um cavaleiro andante
no reino da fantasia

A palavra é a aminha lavra
a poesia a minha lança
rutilante

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