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segunda-feira, 6 de maio de 2013

Amor de Maio




Agora que entrou Maio
langoroso, sensual e perfumado
lembro
saudoso
e sorrio
com agrado

A pantera cor-de-rosa
que eu acariciava
temeroso
deliciado

No prado
ameno
à beira rio
marchetado de malmequeres

Reclinava a cabeça no meu peito
amorosa
a jeito de que eu a pudesse mimar
com a juba odorada de feno
a esvoaçar

A sua mão era a brisa
que me abria a camisa
e me convidava a voar

Agora que entrou Maio
langoroso, sensual e perfumado
lembro
saudoso
e sorrio
com agrado

domingo, 5 de maio de 2013

Amai mais e mais





Amai!

Amai
tudo e todos

Amai!

Amai
as pedras do caminho
o capim daninho que pisais

Amai
mais e mais

Amai!

Escutai vosso amor em eco
reflectido no horizonte
no ermo sem vivalma
no deserto mais seco
nas fragas do monte
dentro e fora de vós
mesmo se estais
sós

Amai!

Amai
a água que bebeis
o ar que respirais
não deixeis que a Natureza
seja conspurcada jamais

Amai!

Deixai que a voz do amor
se ouça mais
que o ranger de rancor
ou a raiva de dor

Amai!
Mais e mais

sábado, 4 de maio de 2013

À hora a que os ceifeiros dormiam a sesta





À hora a que os ceifeiros dormiam a sesta

 

Vou permanecer por aqui, por agora

postado neste meu calmo cais cósmico

natureza adoçada em ondas suaves de colinas

sobrevoadas por nuvens, no azul cerúleo

e por aves em revoada

que arrulham seus cantares de Primavera

desde o nascer ao sol-pôr, em divinas rotinas

de amor

 

Tudo observo e sorvo de alma calada

em espera paciente do dia em que irei renascer

 

Ainda não é a hora do crepúsculo

o sol mediurno ainda vai alto e queima

 

É a hora a que os ceifeiros dormiam a sesta

descansando da longa e penosa madrugada

 

Assim desejaria eu viver para sempre

fazendo do presente um eterno devir

malgrado os ventos desta angústia estranha

de um dia ter que partir

tenha eu, para tanto, coragem tamanha

 

Há já uma eternidade que espero

sem saber bem porque assim vivo

neste espaço-tempo feito de espuma

e de bruma

 

Mas esperarei mais outra eternidade

se necessário for

porque não duvido do Amor

acredito em Deus

e estou certo de ser eterno

 

E nunca digo adeus a ninguém

nem a coisa nenhuma

 

Vale de Salgueiro, 1 de Maio de 2008

Henrique António Pedro

 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)





sábado, 27 de abril de 2013

O nosso fim é ser anjos




O nosso fim é ser anjos
libertarmo-nos do peso do corpo
e ganhar asas
para poder voar

À custa de sofrer
e de amar
e disso tomar consciência
pela ciência
e pelo saber
pelo sopro de Deus
sobretudo
que é o amor

Este o sentido da dor
da verdade
e da castidade

Antíteses do prazer
e da vaidade
que nos  amarram à terra
em que a vida se encerra

Razão de ser de nascer
viver
e morrer

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Siddhartha




Releio Hermann Hesse
sentado à sombra de uma figueira
em tarde quente de Verão
afagado pelo vento suão
que me entorpece

Adormeço

Reacende-se o sonho
de uma vida inteira
que fantasio noite e dia

A doce Kamara solta o sari
voluptuosa
desnuda o peito
rosa
coloca o seu pé direito
sobre o meu pé direito
e convida-me a amar
da forma que as escrituras
chamam de “subir à árvore”

Agora que as mangas já estão maduras
sanguíneas
o sangue ferve
por dá cá aquela palha
e nos ilumina a poalha
do prazer

A sua boca explode num sorriso de sedução
tomo-lhe um seio na mão
e beijo-lhe os cumes róseos
ora um ora outro
e ela começa a entoar canções de amor
sem compasso

Trepamos tronco acima
tronco a baixo
sem jeito
tronco contra tronco
peito contra peito

Acabamos sentados num ramo
lado a lado
abraçados
coabitando com aves e macacos
deliciando-nos com os frutos

Sem asas para voar
nem escada para descer

Apenas com beijos
e mais beijos
e mais desejos
e mais sonhos para sonhar