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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Escrevam poemas estúpidos, seus estupores!



Todo o poeta que se preza
escreve poemas estúpidos
sobretudo quando escreve poemas de amor
e paixão

O poema mais estúpido
todavia
será um dia
escrito por um poeta de verdade
em sua perfeita razão
e causará um completo estado de torpor
na Humanidade

Já se imaginaram a ler
ou simplesmente a ouvir ler
na versão original em língua materna
o poema “ O céu estrelado em Haergai”
do poeta chinês contemporâneo Xi Chuan
expoente da poesia chinesa moderna?

Ou o chefe índio cheyenne Touro Sentado
a declamar os “ Lusíadas” aos seus guerreiros
depois de vencer o general Custer
na batalha de Little Bighorn?

Para mim o poema mais estúpido da actualidade
já está escrito, porém
e é genial
embora se conheça mal
o estupor do seu autor
ou a sua nacionalidade
como convém

Tem o título “www”
um só verso de um só símbolo
o símbolo “@”
dito arroba
no idioma português
mais conhecido por “at sign” no inglês
que não rima com nada
não tem nexo
nem mete sexo
nem sabe a açorda

É o poema mais lido e transcrito
hoje em dia
e “linka” toda a poesia

Bem!
Escrevam os vossos poemas estúpidos
seus estupores
maníacos
façam alguma coisa de bem
pela Humanidade

Talvez um dia os vejam transcritos
para caracteres chineses ou siríacos
e premiados mesmo sem concorrerem a concurso algum


Ou proscritos da poesia

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Com a enxada da Razão na mão



Algo me compele

Me puxa
e me empurra

Será Deus?
Será o amor?
Será a angústia?

De pés descalços
e com a enxada da Razão
na mão
esgaravato a pele
cavo-me por dentro
garanto o meu sustento
com o suor do corpo
e o sopro
Dos pulmões

Semeio poemas no vento
que não sei aonde irão poisar
se não morrerem sepultados
à partida
por mim rejeitados

O meu melhor húmus
está no coração
bem no âmago de mim
onde cultivo um jardim

de afectos perfumados

terça-feira, 4 de junho de 2013

Regresso de para onde nunca parti



Digresso
e mais uma vez regresso
de onde nunca estive
de para onde nunca parti

Regresso
aonde devo estar
para dentro de mim
que é o meu lugar
princípio e término

Este desejo de partir
de ir e vir
é meu destino

Nunca parto
nunca parti
nunca estive aqui

Mas parto
e torno a partir
entre mim e mim
entre o que sou e o que quero ser
sem nunca sair daqui

É uma forma de me evadir
de ser livre
e de me libertar
para me tornar a prender

E assim viverei

mesmo depois de morrer

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Mil virgens nuas bailam ao luar



Sempre que a abóbada celeste se converte
numa imensa piscina diáfana de luar
e espiritualidade
tendo por fundo a Terra

E à tona do luar flutuam as estrelas
cintilantes

Eu envolvo-me com mil rosas perfumadas
decepadas de espinhos
com mil virgens imaculadas
coroadas de diademas de poemas

E deleito-me nadando nu nos seus olhares
mergulhado em mil fantasias de prazer
e glória celestial

E mortal adormeço
embalado pelo pulsar dos seus corações
inebriado pelo doce arfar de seus seios

E acordo imortal
purificado de todo o mal
sem outros anseios
que não seja bailar nu com mil virgens ao luar
estabelecer o nexo do sexo
com a espiritualidade

Porque
cada mulher virgem que baila nua
ao luar
é uma deusa
e só um deus
poderá fazer florescer no seu ventre sagrado

um poema iluminado

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Esta democracia é uma porca



Esta democracia é rotunda
redonda
sem ponta por onde se lhe pegue
uma filha da mãe
que paga a quem não deve
e rouba a quem nada tem

É uma arreata
que zurze e ata os cidadãos à nora
pela rédea

É uma tragicomédia
insensata
uma pilhéria
uma gargalhada sonora
prenúncio de revolução

É um pântano de abstração

É uma cobra aninhada no seio da Nação
uma ninhada de ratos
a devorar-lhe as entranhas
e o coração

Esta Democracia é uma porca
que amamenta a corrupção

Já nada sobra
só ilusão!

Vale de Salgueiro, 31 de Maio de 2013
Henrique Pedro


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Separação


Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
o seu bater era tão alegre e doce
que partilhavam veias
artérias
…e sangue
se necessário fosse

Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
que sentíamos os mesmos desejos
vivíamos as mesmas emoções
comungávamos das mesmas ideias
enredados nas mesmas teias
tecidas de aventura
sonho
fantasia
e futuro

Tanto nós nos amávamos
tão próximos tínhamos os corações
que no mais leve pensamento
percebíamos a presença do outro
ouvíamos o que cada um dizia
e por maior que fosse a lonjura do afastamento
e mais forte fosse o vento
viesse ele donde viesse
era o seu perfume que trazia

Tão próximos tínhamos os corações
que bastava um sussurro para ouvir
um arfar para sentir
um gesto
um toque
um pestanejar
para despertar o desejo
e ter ensejo de amar

Aconteceu a separação porém…
tão absurdamente…

Os corações separados estão agora tão afastados
que morando no mesmo lugar embora
mais estreito e incómodo é o espaço agora

Somos incapazes de nos ver e sentir
mesmo se nos cruzamos no passeio
e nos olhamos olhos nos olhos
e nem gritando impropérios
nos faríamos ouvir

Os corações separados estão agora tão afastados
que morando na mesma rua
vivemos em mundos diferentes
e é tão fria a indiferença
que apenas sentiríamos a solidão
se vivêssemos os dois sozinhos
no mesmo mundo
sós e vizinhos

Os corações separados estão agora tão afastados
que apenas partilham a mais fria indiferença
e é tão remota a hipótese de retomar
tão infinita impossibilidade

que nem capazes somos de nos odiar