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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Bendita sois Vós entre as mulheres



Pressinto que algo
dentro de mim
pulsante
me chama

Desperto!

Abro a janela de par em par
o Cosmos inunda o aposento
de rompante

Um vento
de luz
sopra seus raios rosa
desde o Sol nascente

É a alvorada a entrar
luminosa
por mim a dentro

Ouço os primeiros acordes
da Avé Maria de Bach e Gounod
que me envolvem em explosão de alegria
e glória

No fundo suave dos violinos
percebo o ondulado das colinas verdejantes
salpicadas de papoilas e marmequeres
a energia telúrica que emana da Terra
força de paz que silencia a guerra

Nos sons metálicos do piano
o tilintar das estrelas a cintilar

Já o meu corpo se quebranta
e começa a voar

E quando a divina voz da diva se alteia
na simplicidade do amor e da verdade
da galileia Maria, de Nazaré
dou-me conta que a minha alma se liberta
dos humanos misteres
e dos constrangimentos da fé

Já não mora mais ali
pois se evola
em êxtase
de espiritualidade
e poesia

Avé Maria
bendita sois Vós

entre as mulheres 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

A mulher gorda



Um som inaudível
uma estranhíssima indução
uma qualquer inconsciente associação
terá motivado tal opção

Não sei

Quando hoje pela manhã
me preparava para me barbear
desatei a assobiar
o refrão
de uma música em voga
e não tardei a trautear o estribilho

«Mulher gorda,
ai a mim não me convém,
………………….
Ai, Ai, Ai, Ai,
eu gosto dessa mulher»

E quando dei por mim
já gritava a plenos pulmões
enquanto a lâmina deslizava
na face ensaboada

«Mulher gorda,
ai a mim não me convém
………………….
Ai, Ai, Ai, Ai,
eu gosto dessa mulher»

E repetia com mais ardor

Quantas pessoas na vizinhança
terão pensado que enlouqueci
eem esperança de cura?
Quantas mulheres gordas sentiram ganas
de me esganar?

Não sei!


A barba ficou um primor

terça-feira, 25 de junho de 2013

A mulher é mais mulher



Poderá a mulher que nos encanta
ser santa
cientista
poetisa
actriz
feliz
infeliz
artista
heroína
governante
amante
capitalista
proletária
revolucionária
ou o que calha

Poderá a mulher, seja ela qual for
ser um amor
e amar alguém
rir ou chorar
ou mesmo nem amar ninguém

Mas a mulher é mais mulher
quando
porém
ama o homem

e é mãe

domingo, 23 de junho de 2013

A mal amada




Sempre que ela
comigo
e eu com ela
me cruzava

A silenciosa sedução da sua formosura
a sua feminina graciosidade
eram promessas de inexcedível amante
de arrepiar

Inicialmente
parecia ser por acaso
que nos encontrávamos
mas passaria a ser de propósito
quando uma molécula do seu perfume me tocou
e um raio de luz de piedade do meu olhar
a penetrou

Porque percebi um pedido de socorro
silencioso
angustiado
na tristeza fascinante
do seu olhar de mulher sofrida
mal amada
embora tudo tivesse de sobra
para ser idolatrada

Mas também era uma mulher apaixonada
amarrada à ideia de lealdade
embora fosse repudiada

Acabámos a dar e a soltar
as mãos
a falar com verdade
como se fôramos irmãos

Passou a ser mais apreciada
e prosseguiu apaixonada

Restou uma eterna
doce

e cúmplice amizade

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Porque cintilam as estrelas?



Porque cintilam as estrelas?

 

Quando a minha deslumbrada

lembrança de criança

se inicia…

 

Ainda a minha família ceava à luz da candeia

e tudo que nos alimentava

era meu pai que o colhia

 

Pão, vinho, mel, azeite e leite

tudo era dádiva de Deus

pelas mãos de meu pai

aceite

 

Também na penumbra mística da igreja lá da aldeia

uma lamparina ardia

quer de noite quer de dia

 

E seria essa luzinha bruxuleante

pequenina

a lançar a primeira grande interrogação

na minha rutilante

Razão

 

Porque ardia e tremeluzia ela

como se fosse uma estrela

à luz do dia?

 

Foi minha mãe que me explicou

e com tanto amor o fez

que ainda hoje aceito a explicação

certo de que assim é

com verdadeiro fervor

e acendrada chama de fé

 

Disse-me ela

numa encantada noite de Verão

estreitando-me contra o seu coração

que as luzinhas que brilham no céu são a luz de estrelas

que há muito tempo se apagaram

mas que só agora chega até nós

trazida pelo vento divino

 

Assim como um grande amor que se foi, mas continua a brilhar

noite e dia

sem nunca se apagar

 

Assim é esse o nosso destino!

 

 (Amor já eu sabia o que era porque muito a amava a ela)

 

Por isso também em minha casa luzia

noite e dia

com deleite

como na igreja da freguesia

uma lampadazinha de azeite

 

Por todos que amávamos

mortos ou vivos

porque acreditávamos que a luz do nosso amor

como a da lamparina

e a da estrela mais pequenina

continuaria a piscar Universo fora

mesmo depois de na Terra se apagar

 

E que será guiados por essa luz

que um dia nos voltaremos a encontrar

agora já sem que o nosso amor

jamais se possa apagar

 

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 3 de Agosto de 2010

Henrique António Pedro

in Introdução à Eternidade 

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia) 

1.ª Edição, Outubro de 2013 

 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Espiritualidade rima com eternidade



Espiritualidade
rima
com eternidade

A minha
está-me na massa do sangue
é eflúvio de amor
o que de mais humano existe

Mamei-a no seio de minha mãe
bebo-a na água da fonte
aspiro-a no ar das montanhas
vejo-a espelhada
além
no horizonte

O luar a pinta
na minha pele

A luz cintilante
da estrela que brilha
distante
grava-a na minha mente

Desperta-a
a angústia que dentro de mim
ferve
reluzente

Por isso a minha poesia
é sol e sombra
da minha alegria