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terça-feira, 9 de julho de 2013

A última noite que dormi com ela



Agora sim
sei

Na última noite que dormi ela
ela já não estava mais
ali

Embora tudo tenha feito
para que eu não a pudesse esquecer
jamais

E passasse o resto da vida a sofrer
por ela
rasgando-me esta chaga no peito
que continua por sarar
e a doer
demais

O anjo adorável
que havia sido
até então
meiga
amável
e verdadeira
naquela noite derradeira
transfigurou-se em Medusa
numa permanente companhia intrusa
que me persegue para toda a parte

Numa mulher ultriz
dona de toda a arte
numa matrona
meretriz

Os beijos e abraços
a inebriante sofreguidão
os gritos de prazer
que coroaram o seu último orgasmo
foram só afinal
o estertor do amor
espasmo da paixão
alvor da vingança

Acto sexual que para meu mal
ainda hoje sinto
e oiço
em surdina
me baila na retina
e sempre se insinua nos meus desejos
como brasa acesa na lembrança
tição incandescente
cujas cinzas escaldantes
continuam a escaldar-me

o coração

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Amantes de cristal



Só sabiam amar-se, assim
envoltos em véu
de fantasia

Com as estrelas a cintilar
no céu
pairavam em silêncio
no Firmamento
de mãos dadas
e de rostos irisados
de prateada alegria

Ou vogavam como cisnes
ao sabor do vento
no lago da poesia
num sonho de fadas
em noite irreal

Eram sombras de luar
amantes de cristal

Até que um dia
a paixão do Sol
pecado alado
os abraçou
envolvendo-os no lençol do desejo
logo ao primeiro beijo

E não tardou
que o sonho de amor
se quebrou
num golpe inesperado
tilintando de dor

Eram amantes sem mal


De cristal

domingo, 7 de julho de 2013

A Razão de Ser



Parto do tempo que conto
e do espaço que ocupo

Da dor que sofro
da verdade que desconheço
do infortúnio que não mereço
da felicidade que anseio

Na minha Razão o tempo
vira Eternidade
e o Espaço
infinidade


No meu Coração
a dor vira Amor
eu irmão
de toda a gente

E Deus
absolutamente

a Razão de Ser

sábado, 6 de julho de 2013

A tribo dos poetas



Erram descalços
e seminus
na pré-história do futuro

Ao frio, à chuva e ao vento
por vales e montanhas
sem sossego nem assento

De luzinha na mão
seguindo o rumo do coração

A espevitar o fogo
com os poemas que acabaram de descobrir
não vá a chama do amor
se extinguir

É a tribo dos poetas
atletas do devir
que não enche estádios
não ocupa as cadeiras do poder
não comanda exércitos
nem dirige as finanças públicas
mas que um dia
tudo irá subverter
com verdade
e acabar com a guerra

Porque só o amor feito poesia
poderá impor a justiça e a harmonia
no seio da Humanidade

e salvar a Terra

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Só não sofrem as fragas




Sofrer sofrem plantas e animais
fome
sede
frio
e desumanidade

Sofrer sofrem os humanos
a falta de humanidade

Só sofremos
se somos nós a sofrer
mas sofremos ainda mais
se sofremos com os demais

Sofrimento sôfrego
sufragado
sofre o poeta amoroso
amargurado
de amor contrariado
a sua maior desgraça

Só não sofrem as fragas
mesmo se o deflagrar fragoroso
as desfigura

e estilhaça