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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Despeço-me. Adeus!



Agora sou verdadeiro
sou o que pareço

Já não morro
já não vivo

Não choro
nem rio

Não gozo
não sofro

Já nada faço aqui

Já voo outros céus
em círculo
respiro outros ares
a arfar
navego à vela noutros mares
distante das tempestades

Já vivo o que nunca vivi
não sou mais “eu”
nem sofro o que sofri

Sou agora um todo
inteiro
a sonhar

De mim
sem demora
me despeço
e me apresto
para a mim
breve
voltar

Em cada instante parto
de mim me aparto
e regresso a mim


Despeço-me. Adeus. Até ao meu regresso.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Sombras de luar




Por agora ainda a Lua se desvanece
em fumo
no céu azul
imaculado

Alva
circular
translúcida
aparentemente imóvel
sem nuvens que a posssam referenciar

Percebe-se melhor
o seu movimento
depois que as primeiras estrelas
surgem no céu

É preciso esperar
para ver

O luar recorta nas almas
imagens doces
amorosas
mas as suas sombras
são vãs
ilusórias


São as sombras da paixão

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Batendo com a cabeça no Infinito





Nestas noites amenas e serenas
em que o espírito se embriaga de espiritualidade
e a angústia se adoça
em doce soledade
fascina-me o Firmamento

Vejo-me reflectido no imenso espelho
cristalino
que me envolve
e me toma o pensamento

Expedito
voo por ele adentro

Até que bato com a cabeça no infinito
qual insecto vagabundo
que se projecta contra o vidro
em que se vê reflectido

Também eu me iludo
e julgo ser aquele
o meu mundo

Mas depressa me dou conta
de que não tenho pernas
nem braços
nem asas
nem motor espacial
capazes de lá me levar

E que apenas se voar
por mim adentro
poderei
um dia

lá chegar

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Esta saudade cadela


(Do meu baú de recordações)

Esta saudade cadela
me morde
e me ladra
a toda a hora
furiosa
e não me deixa dormir

Em vão tento amansá-la
imaginando a minha amada
saudosa
a sorrir
amorosa
escrevendo o aerograma
que agora tenho na mão
em que me diz
que me ama

Aerograma que leio
e releio
mas mais me enleio
nesta cruel nostalgia
nesta saudade
insidiosa
cadela
que ladra à lua

Só mesmo a poesia
dá conta dela!


Nangololo (Norte de Moçambique), Agosto de 1971

Henrique Pedro

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Os mais belos poemas de amor são escritos por quem não está verdadeiramente apaixonado


Muitos poemas de amor

quiçá os mais belos

são textos singelos

escritos por quem não está verdadeiramente apaixonado

 

Por quem

em rigor

a si mesmo se engana

ou por certo algum dia se enganou

 

Há mesmo quem escreva sem saber que o diz

ou faz

julgando ser feliz

embora não sendo falaz

 

Há quem viva na ilusão

no desejo frustrado

na esperança sem ensejo

na eterna aspiração

quiçá na simples fantasia

melhor dizendo

não desfazendo

na mais pura poesia

 

Esta a razão principal

pela qual

há tanto poeta a fingir

para fugir

ou se esconder

a escrever sem saber

fantasiosa poesia amorosa

imaginárias dores cor de rosa

 

Quem ama de verdade

vive com tal intensidade o seu enamoramento

que não tem arte nem tempo

para escrever e dar publicidade

a tal encantamento

 

Não é, portanto, de espantar

que os mais belos poemas de amor sejam escritos

por quem não está verdadeiramente apaixonado

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 21 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Oração fúnebre para um amigo



Adeus
amigo

Acabas de te despedir
não de morrer
enquanto a nós
nos for dado viver

Continuaremos a contar contigo
para o resto dos nossos dias

E se mais devir houver
lá nos encontraremos

Num cataclismo cósmico qualquer
no pó de uma estrela
no pé de uma planta
na pétala de uma flor
no verso de um poema
no halo do amor
na aura da saudade
na angústia de um dilema
na dor que nos quebranta

onde a amizade esteja

Adeus
amigo

Até sempre

Até qualquer dia
noutro plano
noutro tempo


No vento que seja