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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Trazíamos a electricidade no corpo e não sabíamos




Trazíamos a electricidade no corpo
e não sabíamos

No entanto
é a electricidade que dá estímulos ao coração

Tínhamos cálcio e ferro e sal nos ossos
como qualquer planta
ou animal
sem saber também
para nosso bem
ou nosso mal

E água
muita água e o sopro de vento
que nos faz respirar

E não víamos sequer a luz dos olhos
que nos faz ver

Como poderemos então perceber
o espírito e a alma
que pairam no nosso interior
se não abrimos os olhos e os ouvidos
do amor?

Tudo que ama tem alma!

Mesmo uma fraga descomunal
que seja
surda e muda
poderá ser o anjo encantado
que se transmuda

em catedral

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Dessa mulher nada quero saber





Não quero saber quem é
nem o que faz
ou que fez

É-me indiferente

Completamente

Não me importa saber se é bonita
catita
feia
fantasma
sereia
inteligente
indigente
morena
liberal
grande
pequena
sensual
bailarina
nórdica, arábica ou latina

Duvido até que é disléxica, estrábica e daltónica
porque mal me vê
e nem me fala

Sobre essa mulher
não me interrogo

Quero lá saber!

Apenas me questiono
porque será que só de a ver
me emociono

Dessa mulher nada quero saber

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 27 de Fevereiro de 2012
Henrique Pedro

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sorrisos que só mostram dentes



Os mais sinistros sinais
destes tempos dementes
são
quiçá
os sorrisos que não mostram mais
que dentes

São sorrisos coercivos
que vendem dentífricos inofensivos
“lingeries” vaporosas
e políticas maliciosas

São sorrisos sinistros
que enredam os espíritos
em ilusões cor-de-rosa
escondem a perfídia
disfarçam a traição
e levam à perdição

Urge
portanto
que aprendamos a sorrir
sorrisos mais explícitos
com natural encanto

Urge que a Humanidade
reaprenda a rir de verdade
a sorrir sorrisos que abracem
e enlacem

com naturalidade

sábado, 7 de dezembro de 2013

Coisas que sinto que não sei o que são



Há coisas que sinto
e que não sei o que são

São infinitas formas de angústia
sonhos
ilusões
pesadelos
dúvidas
desejos
outras tantas tentações

São estranhas formas de dor
e de sofrer
vontade de matar
e morrer
desejos de aniquilar
ódios e paixões

Tantas coisas eu sinto
que não sei o que são

Uma só forma de amor
e amar
têm lugar
de verdade

no meu coração

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pleno poema é o meu pinhal






Pelas minhas próprias mãos plantado

pelo suor do meu rosto regado

cresceu livre do vil vento do mal

pleno poema é o meu pinhal!

 

Pela Mãe Natureza abençoado

é cântico sublime, sibilado

que viceja no húmus ancestral

corpo, sangue, alma universal!

 

Imune aos venenos que o vento

sopra sobre a Terra mal amada

ar de angústia e sofrimento

 

Das aves é guarida, sustento

de mim dádiva da vida sonhada

dom, som, sinal, aval dum novo tempo

 

Vale de Salgueiro, 9 de Abril de 2008

Henrique António Pedro


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Cantar de encantar a pedra



Não me consta que houvesse
mestre maçom
por mais iluminado
que de porpianho mais soubesse
que o pedreiro Justiniano
embora ele não fosse
nem crente nem ateu

Encantado ficava eu
ouvindo o mestre canteiro
cantar à cantaria
que ele próprio esquadrou
nas fragas do inóspito
e sombrio quadraçal

Ei pedrinha ou…
ei pedrinha ou…

E o tosco bloco de granito
mais pesado que a cruz de Cristo
deslizava enlevado
por via da magia
do laico cantochão

Leve como a água de poesia
que então se vertia
na cabeça do neófito
na pia baptismal
em busca da salvação

Ei pedrinha ou…

ei pedrinha ou…