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segunda-feira, 24 de março de 2014

Projecto-me no Espaço, precipito-me no Infinito



Tão confinante é o espaço
em que me é dado viver

Tão angustiante a dúvida que me aflige
que nem capaz sou de a exprimir

Tão atroz a dor que sou forçado a sofrer
sem o consentir

Tão doce e fugaz o sabor
do amor
que me é dado degustar

Tão luminosa a réstia de luz
que me é dado vislumbrar

Que me projecto
no Espaço
para lá dos limites do planeta
e das estrelas do céu

Para lá das glórias da Terra
da ilusão dos dias
das fantasias do coração

E me precipito
no Infinito
no Absoluto

na Eternidade

quinta-feira, 20 de março de 2014

Paixão





Paixão, pulsão pulsante, atração
Arte da sedução e do cortejo
É chispa radiante do desejo
Uma brasa viva no coração

Que se transforma em negro carvão
Quando com o seu triste arpejo
Porque o amor não logrou ensejo
Se apaga, com dor, sem compaixão

Sem o amor que a alma abrasa
Deixa o coração de ser fornalha
De pronto a paixão perde a asa

Estiola e arde como palha
Depois que foi carvão e rubra brasa

Vira cinza que o vento espalha

quarta-feira, 19 de março de 2014

Prenúncios de Primavera





Em fins de Fevereiro
início de Março
no declinar do Inverno

Tomo um caminho recto
de rumo poente
à hora em que o Sol se põe
olho-o bem de frente
de olhos semicerrados
para que não me fira a vista
e melhor me ilumine o espírito

Inalo o seu halo quente
a brisa afaga-me o rosto
docemente
abro bem os braços
como se abraça-lo
fosse o meu anelo
mais ardente

Já o manto verde reveste os campos
ponteado de pintas intumescidas de amarelo

Indícios de flores
promessas de amores
prenúncios da Primavera

emergente

terça-feira, 18 de março de 2014

Do fascínio do silêncio e da solidão





Há momentos, em que por momento
me fascinam
o silêncio e a solidão

Não se trata de ficar só, abandonado
fugido da aspereza da vida
alheado dos sons e cores da Natureza

Falo do isolamento interior
do silêncio do mundo
quando os ecos e cambiantes do Cosmos
anódinos
melhor se espelham e ressoam dentro de mim

Sinto-me
então
sim, só
em confronto directo comigo mesmo
eu contra “eu”

Com os olhos e os ouvidos
com todos os sentidos
e sentimentos
voltados por momentos
para dentro de mim

Falo então comigo só
e com o meu umbigo
e o mais que consigo
é não compreender nada
nada ver e ouvir para lá do “eu”

Mas é mais forte ainda assim
a minha percepção de mim
daquilo que sou
ainda que não saiba o que faço
nem tão pouco onde estou

E melhor percebo que existo
qual das ilusões eu não sou

E acredito
que bastará uma instantânea eternidade
de silêncio e solidão
bem fora deste inferno

para perceber o Eterno

sexta-feira, 14 de março de 2014

No céu não existe Deus





Imagino o céu

Sem sóis
luas
ou estrelas
sem noite ou dia
e sem poesia

Um mundo onde não existe Deus
porque só é habitado por anjos
e Deus mora em toda a parte
noutro lugar

Um lugar onde não há sexo
porque os anjos não têm sexo

Um lugar sem dinheiro
porque não há lá nada que vender
ou comprar

Um sítio onde não há felicidade
porque lá não há tristeza
nem dor
nem alegria

Um lugar sem paz
porque lá não há guerras

Um lugar onde não há verdade
porque também não há mentira

Um lugar sem luz
e sem trevas

Sem amor
e sem ódio

Um lugar aonde só conduzem caminhos de virtude
de sofrimento
e de morte

Um lugar onde só entra quem Deus quer

O único lugar onde o absoluto
e a eternidade
são relativos
porque Deus poderá ciar um novo planeta
quando menos se espera
e remeter anjos
para lá

O céu

Um lugar que só existe na Terra
e é na Terra que devemos procurá-lo
portanto

O céu


Um lugar onde eu gostaria de morar

terça-feira, 11 de março de 2014

Espelho parabólico



Uso este espelho parabólico
que é a poesia
para melhor me ver
e me mostrar
com fantasia

Para me aproximar
ampliar
distorcer
em esgares de estarrecer

Para me fixar nos olhos
e pelo olhar
tentar entrar por mim adentro

Para bafejar  o vidro da vida
com vapores de poesia
e deixar que as gotas condensadas
que poderão ser lágrimas
rimas
estimas
estigmas
poemas
dilemas
pingos de sangue do coração
escorram
deslizem lentas
até  me caírem na mão

Quando não sou eu próprio
com um dedo
a traçar no vapor
sulcos leves
livremente
percursos de sonho

e de amor