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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Triste seria morrer e concluir…



Triste
muito triste, mesmo
seria morrer e concluir
que se andou uma vida inteira enganado
a esmo

Que se acreditou
sonhou
sofreu
amou
se deu tudo o que se tinha para dar
se amou e se praticou o bem
e a verdade
para nada

Que mais teria valido a pena gozar a vida bem gozada

Concluir que afinal o Além não existe
que Deus não passa de uma ilusão
o amor de umas anormais batidas de coração
o bem de um empecilho
e a verdade de um mal-entendido

Nada mais

Nada disto poderemos concluir
porém
se Deus não existir
nem o Além

Não existe o amor
nem a verdade
nem a vida
nem existe o bem

Mas nós sabemos bem
que o amor
a verdade
e o bem
existem

Vemo-lo
sentimo-lo
ouvimo-lo
desde logo no seio de nossa mãe

E como será morrer
e concluir
que Deus afinal existe
e existe o Além
quando se viveu

desconfiado?

terça-feira, 8 de abril de 2014

Porque se convertem em versos certas palavras?





Poderiam ser só gritos apenas
grunhidos
sussurros
arrulhos
insultos
lamentos
chamamentos

Expressões de cor
de dor
e de dó
de medo
maldade
fome
desejo
tão só

Porque se convertem em versos
então
certas palavras
e outras não
e as não leva o vento
como às demais?

Porque consubstanciam ideia
e ideal
fantasia e melodia
são poesia
intemporal
e trazem apelos de amor
na raiz
e mesmo se falam de sofrimento

sempre fazem alguém feliz

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Um lapso de luz



Espraio o espírito por toda a dimensão do Cosmos
de corpo confinado
á Terra

Cabeça
tronco
membros
olhos
ouvidos
e demais sentidos
entrego-os à Natureza

Deixo que percorram os caminhos que lhes aprouverem
sintonizados com a energia telúrica que os anima
faça sol
chuva
ou neve

Relapso
voo no vento

Por instantes
sou eu

Num lapso de luz
ausente

do espaço-tempo

domingo, 6 de abril de 2014

Que outro atributo poderá ter, o Além?



Recosto-me no tronco de uma tília florida
que a aragem do fim da tarde abana
e me embala

Adormeço
e sonho
como se acordado

Enlevado em bátegas de amor
como se o meu berço fora um barco
uma pluma
uma flor
que as ondas do cosmos fazem vogar
livremente
em liberdade
perdido
na bruma
do destino

Como se eu fora um pétala perfumada
que se desprendeu da árvore mãe
e demorará um eternidade
oscilando no ar
até pousar
no absoluto

Que outro atributo
poderá ter

o Além?

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Entre a minha aldeia e o Rio de Janeiro



Tenho vindo a procurar
na poesia dos poetas cariocas
para eventuais trocas
de ar e de lugar
parecenças e diferenças
entre a minha aldeia
e a cidade do Rio
e sorrio
porque
na minha ideia
só encontro semelhanças

Embora nos céus do Rio haja arranha-céus
mais altos que as estrelas
enquanto no céu da minha aldeia há estrelas tão baixinhas
que lhe podemos chegar com a mão

Embora o Rio seja banhado por um mar
de insanidade
por um certo ar
malsão
enquanto na minha santa terrinha
corre um riozinho de espiritualidade

Embora o Cristo Redentor
seja maior e mais vistoso
que o amoroso Senhor dos Aflitos
venerado no alto da Serrinha
pelos corações mais contritos

Embora lá no Rio
as mulheres se dispam ao Sol
e na minha aldeia só se dispam à Lua
ainda que nem outras nem umas
nos mostrem as almas nuas

É por isso que sou de ideia
que devemos amar as mulheres
em primeiro que tudo
no Rio
ou na minha aldeia

Embora nunca devamos adorar nada
nem ninguém
muito menos mitos

e políticos
que são falsos
e fugazes