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sábado, 19 de abril de 2014

Porque vivemos, se morremos?!






Porque amamos se sofremos?!

Porque nos angustiamos se daí nada resulta
e nenhum sacrifício tem sentido?!

Porque escrevemos poesia
se por essa via
não se aplaca
o mal
do Mundo?!

Porque existimos
se Deus não existir?!

E porque vivemos
se morremos?!

Talvez porque sofremos
para aprendermos a amar
e a angústia
e a poesia
sejam só indícios
de uma felicidade maior

Talvez porque Deus exista
e nós não morramos


Só poderá ser!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ecos e reflexos do Criador



Gosto de orar na ideia de que adormeço

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

e viajo Cosmos além

livre de todo o mal

 

A sonhar que a mão de Deus me afaga

e me faz Revelações

como fazia minha mãe

quando menino me aconchegava no seu seio

ciciando-me doces melodias de amor e de encanto

como se eu fora um santo

um deus pequenino

 

Eram ecos e reflexos do Criador

 

O meu pensamento voava por dentro do sonho para fora do sono

e o meu espírito vogava pelo Universo

iluminado pela luz do seu coração

 

Tento agora ouvir de novo os mesmos ecos

ver os mesmos reflexos

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

na ideia que é o regaço de minha mãe

 

Não encontrei, até hoje, melhor forma de me interrogar

outro verso e anverso das agruras da vida olhar

sem me sentir vazio, naufrago do nada

sem me angustiar

 

Era Deus que descia do Céu para me falar de Si

com suavidade

mesmo ali

no limiar da Eternidade

 

Era eu que a dormir despertava por dentro

mergulhava no mais profundo de mim

descobria o meu caminho

e me transformava em profeta daquele espaço

naquele tempo

 

Para lá do umbral do pequeno templo da minha aldeia

pregada na parede mais umbria

 ergue-se, porém, uma Cruz

lustrada pela luz trémula de uma candeia

que ilumina de divino o destino sonhado

 no regaço de minha mãe

 

Sonho agora acordado como quando criança

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

na ideia que é o regaço de minha mãe

adormecido na Fé e na Esperança de um dia acordar

 

Henrique António Pedro

 13 de Setembro de 2006

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

 

 

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Triste seria morrer e concluir…



Triste
muito triste, mesmo
seria morrer e concluir
que se andou uma vida inteira enganado
a esmo

Que se acreditou
sonhou
sofreu
amou
se deu tudo o que se tinha para dar
se amou e se praticou o bem
e a verdade
para nada

Que mais teria valido a pena gozar a vida bem gozada

Concluir que afinal o Além não existe
que Deus não passa de uma ilusão
o amor de umas anormais batidas de coração
o bem de um empecilho
e a verdade de um mal-entendido

Nada mais

Nada disto poderemos concluir
porém
se Deus não existir
nem o Além

Não existe o amor
nem a verdade
nem a vida
nem existe o bem

Mas nós sabemos bem
que o amor
a verdade
e o bem
existem

Vemo-lo
sentimo-lo
ouvimo-lo
desde logo no seio de nossa mãe

E como será morrer
e concluir
que Deus afinal existe
e existe o Além
quando se viveu

desconfiado?

terça-feira, 8 de abril de 2014

Porque se convertem em versos certas palavras?





Poderiam ser só gritos apenas
grunhidos
sussurros
arrulhos
insultos
lamentos
chamamentos

Expressões de cor
de dor
e de dó
de medo
maldade
fome
desejo
tão só

Porque se convertem em versos
então
certas palavras
e outras não
e as não leva o vento
como às demais?

Porque consubstanciam ideia
e ideal
fantasia e melodia
são poesia
intemporal
e trazem apelos de amor
na raiz
e mesmo se falam de sofrimento

sempre fazem alguém feliz

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Um lapso de luz



Espraio o espírito por toda a dimensão do Cosmos
de corpo confinado
á Terra

Cabeça
tronco
membros
olhos
ouvidos
e demais sentidos
entrego-os à Natureza

Deixo que percorram os caminhos que lhes aprouverem
sintonizados com a energia telúrica que os anima
faça sol
chuva
ou neve

Relapso
voo no vento

Por instantes
sou eu

Num lapso de luz
ausente

do espaço-tempo

domingo, 6 de abril de 2014

Que outro atributo poderá ter, o Além?



Recosto-me no tronco de uma tília florida
que a aragem do fim da tarde abana
e me embala

Adormeço
e sonho
como se acordado

Enlevado em bátegas de amor
como se o meu berço fora um barco
uma pluma
uma flor
que as ondas do cosmos fazem vogar
livremente
em liberdade
perdido
na bruma
do destino

Como se eu fora um pétala perfumada
que se desprendeu da árvore mãe
e demorará um eternidade
oscilando no ar
até pousar
no absoluto

Que outro atributo
poderá ter

o Além?