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quarta-feira, 7 de maio de 2014

Quereria ser eu a ler os meus poemas



Quereria ser eu a ler os meus poemas
uma só vez que fosse
se tal possível fosse
para melhor sentir o travo agridoce
de não ter escrito o que queria
escrever

Abrir o livro
ou a página da internet
e deparar com eles sem os conhecer

Sentir o efeito de surpresa
melhor avaliar o seu peso
e a sua leveza
a sua verdade
e originalidade
e poder rever-me neles
com se num espelho me reflectisse
ou numa fotografia me retratasse

Ou talvez não
quem sabe se com eles deparasse
sem os conhecer
nem sequer me desse
para os ler

Pura imaginação
aos meu poemas sempre os escrevo
e reescrevo
leio
e releio
e neles me enleio
com o coração

Os meus poemas são tudo que sou
ninguém mais os poderá escrever

que não eu

sábado, 26 de abril de 2014

Retrato de uma mulher qualquer

  



Veste vestido encarnado
com decote descaído
manga arregaçada

Preparada para a vida
relógio no antebraço
trança atirada para a frente
muitas coisas me diz de si
a mim
e muito mais
a muita a gente

Mesmo se seus lábios carnudos
sensuais
permanecem mudos

Quase tudo
ou quase nada
fica exposto
neste seu público retrato
de meio corpo

Adivinho que não é uma mulher qualquer

Que perscruta poemas
e amores
infindos
com seus olhos lindos
   que adoro vê-los

Sei que não me ouve nem me lê

Ainda assim
coloco flores
nos seus cabelos

já se vê

sábado, 19 de abril de 2014

Porque vivemos, se morremos?!






Porque amamos se sofremos?!

Porque nos angustiamos se daí nada resulta
e nenhum sacrifício tem sentido?!

Porque escrevemos poesia
se por essa via
não se aplaca
o mal
do Mundo?!

Porque existimos
se Deus não existir?!

E porque vivemos
se morremos?!

Talvez porque sofremos
para aprendermos a amar
e a angústia
e a poesia
sejam só indícios
de uma felicidade maior

Talvez porque Deus exista
e nós não morramos


Só poderá ser!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ecos e reflexos do Criador



Gosto de orar na ideia de que adormeço

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

e viajo Cosmos além

livre de todo o mal

 

A sonhar que a mão de Deus me afaga

e me faz Revelações

como fazia minha mãe

quando menino me aconchegava no seu seio

ciciando-me doces melodias de amor e de encanto

como se eu fora um santo

um deus pequenino

 

Eram ecos e reflexos do Criador

 

O meu pensamento voava por dentro do sonho para fora do sono

e o meu espírito vogava pelo Universo

iluminado pela luz do seu coração

 

Tento agora ouvir de novo os mesmos ecos

ver os mesmos reflexos

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

na ideia que é o regaço de minha mãe

 

Não encontrei, até hoje, melhor forma de me interrogar

outro verso e anverso das agruras da vida olhar

sem me sentir vazio, naufrago do nada

sem me angustiar

 

Era Deus que descia do Céu para me falar de Si

com suavidade

mesmo ali

no limiar da Eternidade

 

Era eu que a dormir despertava por dentro

mergulhava no mais profundo de mim

descobria o meu caminho

e me transformava em profeta daquele espaço

naquele tempo

 

Para lá do umbral do pequeno templo da minha aldeia

pregada na parede mais umbria

 ergue-se, porém, uma Cruz

lustrada pela luz trémula de uma candeia

que ilumina de divino o destino sonhado

 no regaço de minha mãe

 

Sonho agora acordado como quando criança

no umbral do pequeno templo da minha aldeia

na ideia que é o regaço de minha mãe

adormecido na Fé e na Esperança de um dia acordar

 

Henrique António Pedro

 13 de Setembro de 2006

In Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

 

 

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Triste seria morrer e concluir…



Triste
muito triste, mesmo
seria morrer e concluir
que se andou uma vida inteira enganado
a esmo

Que se acreditou
sonhou
sofreu
amou
se deu tudo o que se tinha para dar
se amou e se praticou o bem
e a verdade
para nada

Que mais teria valido a pena gozar a vida bem gozada

Concluir que afinal o Além não existe
que Deus não passa de uma ilusão
o amor de umas anormais batidas de coração
o bem de um empecilho
e a verdade de um mal-entendido

Nada mais

Nada disto poderemos concluir
porém
se Deus não existir
nem o Além

Não existe o amor
nem a verdade
nem a vida
nem existe o bem

Mas nós sabemos bem
que o amor
a verdade
e o bem
existem

Vemo-lo
sentimo-lo
ouvimo-lo
desde logo no seio de nossa mãe

E como será morrer
e concluir
que Deus afinal existe
e existe o Além
quando se viveu

desconfiado?