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quarta-feira, 2 de julho de 2014

Há, em mim, uma angústia crónica





Há, em mim, uma angústia crónica


em mim
uma angústia crónica
que não tem a ver com sucessos ou derrotas
amores contrariados
saldos bancários deficitários
com a crise instalada
ou qualquer glândula avariada

É uma angústia telúrica
que a terra
exala

É hálito podre dos monturos de dejectos
do carvão e do petróleo
do alcatrão das estradas
dos escapes dos motores
da borracha e do óleo
da tirania dos ditadores
dos políticos impostores

em mim
uma amargura emergente
um aperto de coração
que tem a ver com a política
com o rumo que leva a civilização

É uma amargura a um tempo cósmica
e telúrica
a dizer-me que assim
não vamos a lado nenhum
que nem valerá a pena ousar conquistar o Espaço

Amargura telúrica
emanada do ar e da água
que causa nos seres profunda mágoa

Angústia cósmica
crónica
vinda dos confins do universos
que polui mentes, palavras e o versos

Que me levam à contemplação das estrelas
no silêncio da noite

A refugiar-me nos templos
em oração
a procurar refúgio na Eternidade

Porque indiciam a agonia da Terra
o fim da Humanidade


Vale de Salgueiro, domingo, 2 de Novembro de 2008
Henrique Pedro



sábado, 28 de junho de 2014

Em tempo real



No exacto instante em que pousas a vista
neste primeiro verso

Anota o tempo
e regista o local preciso
do Universo
em que te encontras

Se possível coloca um cronómetro a contar

Lê bem alto
em silêncio
para ti
este poema
por forma a ser ouvido
por todas as partes do teu ser

Não sou eu que falo contigo
e a mim
tão pouco
sequer
me podes imaginar

És tu que fantasias
e vives poesia
em tempo real

Quem escreve apenas exterioriza
a menos que se coloque no teu lugar

Todo o processo criativo é angustiante
para quem cria

O poeta real é aquele que lê
sente
interioriza
e se põe a divagar

Se liberta de si
do mundo
e cavalga o vento

Que se ergue por dentro
a viver aventuras
impossíveis de contar

Alguém que a si muito se estima
que não se atém a uma palavra
a um som
a uma rima
e tudo lhe serve para poetar

Que reduz o espaço
a um abraço
o tempo a uma eternidade

Para o cronómetro
agora

Nem deste pelo tempo passar

Terão sido segundos
ou uma eternidade?

Esteves-te aí
ou noutro lugar?

Eu não sei

Apenas sei que acabei

por te abraçar

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Ninguém comanda o coração






Ousa persuadir-me a que a ame
com gestos ousados
de sedução

Eu tento dissuadi-la de que me ame
e de que pretenda que eu a ame
com gestos forçados
de desdém

Nem ela
nem eu
porém
sabemos como este jogo vai terminar

No amor não existe persuasão
nem dissuasão

Apenas há o momento certo
imprevisto
de amar
alguém


Ninguém comanda o coração

terça-feira, 10 de junho de 2014

De nada serve a luz do dia se nos amamos à noite






Fecho os olhos
para melhor a ver
com as minhas próprias mãos

Tenho gravado no cérebro
o seu olhar sedutor
e para melhor a ver
abro olhos em cada dedo das mãos
em cada poro da pele

Os meus ouvidos ouvem tudo o que tem para me dizer
diga-o ou não
mesmo quando em silêncio
se entrega à devassa dos meus braços
ao esquadrinhar dos meus dedos

Ademais o seu corpo ganha fluorescência de tanto prazer
e acaba por iluminar o meu

Nada mais temos para ver
ouvir
dizer
apenas e só
sentir

Senti-la
eu
a ela
sentir-me
ela
a mim

De nada serve a luz do dia
se nos amamos à noite
na doce obscuridade da mais estreme intimidade
e em silêncio
com esfuziante alegria
interior


Em transe de êxtase

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Voam versos, voam penas



Passo
por onde passo
esvoaço
como pássaro
soltando poemas
preso aos dilemas
do viver

Voam versos
voam penas
não paro de esvoaçar
quanto mais me solto
mais acabo de me prender
e enredar

A minha poesia voa
voam versos
voam penas
nas asas da fantasia
continuo a adejar
e a sofrer
ansiedade

Até um dia
poder ser eu
a voar

de verdade