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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Deus não é nada disso






Quem sou eu para determinar
o que Deus é
ou não é?

Atrevo-me a supor, até
que Deus não é nada disso
nada do que Dele dizem

No meu entendimento
Deus
não é nada disso
não é coisa nenhuma
nem criou nada
nem ninguém
porque tudo existe
Nele

Deus
não é nada do que Dele dizem

Bom ou mau
protector
misericordioso
justo ou injusto

Tão pouco é eterno
porque em Deus não há passado, presente ou futuro
e a eternidade começa na hora da morte
quando o tempo para

Deus
não é nada do que Dele dizem
não é nada disso

Não é o que Dele dizem os filósofos
os cientistas
os teólogos

Deus não é nada do que Dele dizem
nem existe
sequer

Deus apenas É


Deus é Aquele de que falam os místicos
os anjos
os santos

É o que nos diz o nosso coração

sempre que sente amor

quinta-feira, 17 de julho de 2014

A mim, Deus, apenas me deu …



A mim
Deus
apenas me deu pernas e braços
o corpo
e o sopro da vida
que passei a ser eu
a soprar

O espaço para viver
e sonhar
terei que ser eu
a porfiar

Resta-me o desejo angustiado
de ser grande
bom
e verdadeiro

Por isso me parto
e reparto
na ânsia de ser inteiro

A outros
Deus
deu mais

E a muitos nem tanto

Muitos talvez se sintam aptos
e capazes de dominar o mundo
a sorrir

Outros apenas encontrarão razão
para o destruir

Eu, não!

Tento apenas
fazer valer
o meu coração

É por isso
que tanto

me apoquento

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Reflectindo sobre a vida à hora em que já são horas de jantar





Mais um dia
uns tantos quantos momentos
com predisposição para a pensar na vida

A sério

Venho fazendo isto
quase sistematicamente
desde que me dei conta que sou gente
embora aparentemente
nos outros dias
não deixe de reflectir

Sem nada
até hoje
poder concluir

Talvez desta vez chegue a uma conclusão
quanto mais não seja que tudo está fora
do alcance da Razão

Mas eu não sou agnóstico confesso
e até professo a doutrina de Cristo

Embora sinta
por vezes
vontade de me rebelar
de mandar tudo à merda
e considere pura perda
estar assim a me martirizar

Mas acabo sempre por me humildar
por caminhar sem tino nem destino
de cabeça cabisbaixa
ao sabor do vento
por caminhos traçados por montes e vales
inteiramente mergulhado na Natureza
e subjugado às forças telúricas e cósmicas
que assim livres melhor se fazem sentir sobre mim
impondo-me o seu norte


À hora em que já são horas de jantar

É então que sinto o estômago falar mais alto que e Razão
e no coração melhor ouço a voz interior
que me segreda que a minha mente é sim insuficiente
demente
mas que não me importe

No coração palpita o espírito
que acende um calorzinho interior a que se chama amor

E aí
sem ter que pensar
encontro resposta para tudo


Até para a morte

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Há, em mim, uma angústia crónica





Há, em mim, uma angústia crónica


em mim
uma angústia crónica
que não tem a ver com sucessos ou derrotas
amores contrariados
saldos bancários deficitários
com a crise instalada
ou qualquer glândula avariada

É uma angústia telúrica
que a terra
exala

É hálito podre dos monturos de dejectos
do carvão e do petróleo
do alcatrão das estradas
dos escapes dos motores
da borracha e do óleo
da tirania dos ditadores
dos políticos impostores

em mim
uma amargura emergente
um aperto de coração
que tem a ver com a política
com o rumo que leva a civilização

É uma amargura a um tempo cósmica
e telúrica
a dizer-me que assim
não vamos a lado nenhum
que nem valerá a pena ousar conquistar o Espaço

Amargura telúrica
emanada do ar e da água
que causa nos seres profunda mágoa

Angústia cósmica
crónica
vinda dos confins do universos
que polui mentes, palavras e o versos

Que me levam à contemplação das estrelas
no silêncio da noite

A refugiar-me nos templos
em oração
a procurar refúgio na Eternidade

Porque indiciam a agonia da Terra
o fim da Humanidade


Vale de Salgueiro, domingo, 2 de Novembro de 2008
Henrique Pedro



sábado, 28 de junho de 2014

Em tempo real



No exacto instante em que pousas a vista
neste primeiro verso

Anota o tempo
e regista o local preciso
do Universo
em que te encontras

Se possível coloca um cronómetro a contar

Lê bem alto
em silêncio
para ti
este poema
por forma a ser ouvido
por todas as partes do teu ser

Não sou eu que falo contigo
e a mim
tão pouco
sequer
me podes imaginar

És tu que fantasias
e vives poesia
em tempo real

Quem escreve apenas exterioriza
a menos que se coloque no teu lugar

Todo o processo criativo é angustiante
para quem cria

O poeta real é aquele que lê
sente
interioriza
e se põe a divagar

Se liberta de si
do mundo
e cavalga o vento

Que se ergue por dentro
a viver aventuras
impossíveis de contar

Alguém que a si muito se estima
que não se atém a uma palavra
a um som
a uma rima
e tudo lhe serve para poetar

Que reduz o espaço
a um abraço
o tempo a uma eternidade

Para o cronómetro
agora

Nem deste pelo tempo passar

Terão sido segundos
ou uma eternidade?

Esteves-te aí
ou noutro lugar?

Eu não sei

Apenas sei que acabei

por te abraçar