Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Eu sabia que um qualquer dia





Eu sabia que um qualquer dia

 

Eu sabia

que um qualquer dia

havia

de lá tornar

 

Era o coração que mo dizia

 

E que ao lá voltar

tornava a muitos mais lugares

separados no tempo

espalhados mas ligados

no mesmo fio de sentimento

numa estranha conexão

que só mais tarde compreendi

 

Só não sabia

que seria

assim tão de repente

sem razão visível

nem causa aparente

e que sentiria o que senti

 

Só não sabia

que encontraria

tudo assim tão diferente

tantos espaços desertos

tanta gente ausente

tantos silêncios abertos

 

Fiquei por isso parado

calado

no doce prazer de sofrer

a recordar

tomado de nostalgia

 

Daquela galega morrinha

que ainda agora

agorinha

me não mata

mas me mói

 

Doer

de verdade

dói a saudade

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 7 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Sonho e sinto saudade


 

 

Não tenho tempo
presente
passado
nem idade

Apenas sinto
saudade

Não tenho futuro
obscuro ou risonho

    Não tenho espaço
nem sei o que faço

Apenas sonho

Não sei que coisas são paixão
rancor
penas
ou compaixão

Vivo no universo da fantasia
o mundo da poesia

Apenas sinto
amor

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Ao deus-dará


 

 

Adrede
caminho a esmo

Avanço

Mesmo que seja o vento
a traçar-me o caminho
a tecer a rede
a tramar-me o destino

Sem rumo

Ora por veredas que caiem a prumo
nas arestas da montanha
ora em terreno plano

Interno-me na floresta
do que me resta
de espírito lhano

A minha alma não sei por onde anda
à minha vontade
tanto se lhe dá

Caminho por aí
sem sair daqui
nem por ir além

Ao deus-dará

sábado, 31 de janeiro de 2015

Poesia que sinto e não escrevo


 

Passa nas nuvens
nos sonhos
nos desejos
a correr
fugaz

Sob mil formas de amar
e de sofrer
de vento
e de contratempo

A poesia que sinto e não escrevo

Porque não sei
não quero
não tenho tempo
ou não sou capaz

A poesia que sinto
e não sei escrever
é angústia
é tormento

Epifenómeno do meu viver

sábado, 17 de janeiro de 2015

A mim não me importa o que escrevo


 

 
A mim não me importa o que escrevo
nem se o faço no vento
na água
no tempo
ou noutro meio qualquer

 
Muitas vezes nem sei o que digo
o que faço
ou semeio sem querer

Importam-me sim
as mil coisas que outros leem
naquilo que eu escrevo
com enlevo

Cada um à sua maneira
seja qual for sua cor
ou sua bandeira

A mim
basta-me pensar
que cada novo verso

que eu publicar
por mais bisonho
abre um novo universo
que alguém irá povoar
de sonho

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O AMOR COMO O FOGO


 
 
Percebemos o fogo
como algo exterior aos corpos
que os queima
os consome
e reduz a cinza

Na verdade
o fogo
está neles

É o Sol aprisionado
que se liberta
na combustão

Percebemos o amor
como algo que nos é exterior
se apodera de nós
e nos transforma

Mas não
o amor está em nós

É centelha divina
que se liberta
e retorna a Deus