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sexta-feira, 29 de abril de 2016

Um sopro divino




Há um sopro divino
que dentro de mim sopra
sem parar
e sem tino

Que procuro entender
e diferenciar

Sopro que me vai na alma
e não me vem do corpo

E me leva a poetar
como forma de me libertar

Uma sensação estranha
de me sentir preso
à sanha do desejo
ensejo de me soltar

De querer ser
como a luz das estrelas
que depois do astro morrer
continua a brilhar

Pura poesia
quando o estro se finar
e se perder no vento

Vontade de viver
fora do espaço-tempo

sábado, 23 de abril de 2016

Poema acabado de florir com a Primavera



O vento arrasta a chuva por mim a dentro
em bátegas de impaciência

Mergulho numa aborrida dormência

Procuro sinónimos de mim e de Primavera
a mais bizarra sinonímia que posso imaginar

Sou um novelo de liberdade
em que me enredo e emaranho
quando apenas pretendia me libertar

Um emaranhado de amor
de tanto amar

Uma nuvem negra de angústia
uma borbulha de ansiedade
um cachão de raiva
um furúnculo de repulsa
um borboto de lixo
uma ampola de azia
um balão de demência
um poço de loucura
uma câmara de tortura
uma catedral vazia

Acordo

Havia adormecido

sem me ter apercebido

nem dar pelo tempo passar

já há sol a fulgir

lá fora

à minha espera


Sorrio

agora

dentro de mim

há um botão de flor a desabrochar

um poema acabado de florir ao romper da Primavera

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 29 de Março de 2010

Henrique Pedro

terça-feira, 19 de abril de 2016

Doze badaladas premonitórias





O relógio da sala de janta bateu doze badaladas
premonitórias
de desilusão

Tocou as notas introdutórias
com poesia
e depois doze badaladas sonoras
espaçadas
metálicas
marteladas
sem melodia

Amanhã por esta hora
serão de novo horas de me deitar
ainda que sem dormir

Quando ouvir o relógio analógico badalar
em contraposição à insana inovação
que põe milhares de relógios digitais a piscar
obrigando a Humanidade a correr
apressada

Dessincronizada com o Cosmos
com a imaginação
limitada
a cortar a respiração

Preferiria antes ouvir
relógios analógicos a badalar
crocitar
cucar
e porque não
balir

Como quando o galo
madrugador
com seu estridente estertor
anunciava a alvorada

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Pétalas de esquecimento




Já não é mais a flor amorosa
viçosa
perfumada

A rosa inflamada
pelo desejo despótico
que germinava
no húmus erótico
do seu corpo juvenil

Já nem ela
sorri
só de se lembrar

É agora uma rosa estiolada
que seguro pelo pé
já sem fé
com cuidado
contudo

Não com medo de ser picado
mas porque sei
que o mais delicado
movimento
o mais suave sopro de vento
a fará
despetalar

Foi o sopro
o cicio do tempo
perdido o cio
que colocou no vazio
do meu coração
as pétalas do esquecimento

Inexoravelmente

Já as pétalas lhe caem aos pés

Já nem eu sou
o que fui

É cruel
mas é

Até sempre

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Uma janela aberta a deixar o sol entrar


 

A Primavera é um capricho
da verdade

Uma vertigem
um vagado
um delíquio de beleza
da Natureza

Uma erupção de sensualidade

Um sopro de pós
de pólenes
de poemas
de gotas de esperma
e de pétalas virginais

Um borrifo de perfumes naturais
de odores corporais
de suores
de aromas
de hormonas
de feromonas

Um chorrilho de espirros
e notas musicais

Uma rapsódia de sorrisos
de chilreios
alergias
e fantasias

A Primavera é uma janela aberta
a deixar o Sol entrar