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sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Aquela paixão não passou de um poema escrito num pedaço de papel que ardeu






Escrevi aquele poema na minha própria alma
com a tinta doirada do meu amor
e com toda a minha arte
na esperança de que ela o lesse com o coração

Ela porém tomou-o por burlesco
por literatura de cordel

Pediu-me que o anotasse num pedaço de papel
que não leu
e que depois de amassado
acabou cremado
em fugaz incêndio
num cinzeiro grosseiro
de vidro vulgar

Sobrou um montículo de cinza
que com um sopro
leve
e um despiciendo piparote
sacudiu do capote

Não tem porque se lamentar
agora
que anda perdida
a esmo
lamentando-se de me não ter dado a devida atenção

Aquela paixão
indevida
não passou disso mesmo

De um poema escrito num pedaço de papel
que ardeu
só porque ela não o mereceu



segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Quando a poesia acontece mesmo sem inspiração.




Já a Primavera se transmuda em Verão

Já o Sol se põe
e muda de posição
deixando atrás de si
um resplendor alaranjado
que se desvanece
e me deixa extasiado
enquanto o céu escurece
e a Terra se encobre de escuridão

Já a Lua brilha cristalina
já se acende a estrela  vespertina
depois outra após outra
marchetando o Firmamento
que por fim se ilumina
de cerúleo polimento
mais abrangente

Nenhuma ideia brilhante
nenhuma palavra redundante
uma rima sequer
indiciam poemas na minha mente

Nem eu tristonho
me predisponho a poetar
assim mergulhado na soledade
do fim do dia
extasiado com a serenidade
da contemplação

Sob o olhar da Lua
que em silêncio percorre o céu
e me olha
como se estivesse ali postada
ela sim
para a mim
me contemplar
e cobrir com o seu véu

Mas eu não tenho dilemas
penas para espiar
ninguém para namorar
nada de poemas
um verso que seja para escrever

apenas solidão

Nada à Lua posso dar

nada a Lua me oferece
à Lua nada pedi

A poesia acontece
por si
mesmo sem inspiração





sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Com poesia a mim mesmo me engano



Confidencia-me o seu segredo mais íntimo
que silencio nos ouvidos
e sepulto no coração

Ouso ir mais além
porém

Codificar o segredo em poema
e lançá-lo ao vento
também

Ficará bem melhor guardado
ainda assim
por todo o tempo

Porque a poesia é a arte de enganar
com a verdade
de esconder tristeza com alegria
de disfarçar com amizade
a paixão

Por isso as palavras me saem da mente
agora
em torrente
sem chama
nem drama
nem razão

Concertadas em poema depenado
cujas pétalas perfumam o chão
agridoce
dessa doce intimidade
com que ela me desengana
sem me causar maior dano

Na verdade
sou eu
que com poesia
a mim mesmo me engano

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Poente




Caminho
recto
na direcção poente

De cabeça baixa
porque o Sol não me deixa que o olhe de frente

Sol que me aquece o corpo
me doira a pele
me energiza a alma
em tarde calma
quando ainda o horizonte s afasta de mim
se transfigura
volátil
e surge sempre mais além

Só no exacto momento em que o Sol se esconde
o consigo ver
transformado em arco resplandecente
que rápido se dilui em poalha de luz
morno calor
que me induz
a parar

Fico a pensar
extasiado
iluminado
pelo halo de amor
que persiste
dentro de mim

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Amor e ubiquidade







Diz-me
para me consolar
e iludir a minha saudade
que embora ausente
no seu coração estou sempre presente

Que sou omnipresente
vá para onde ela for
esteja eu onde estiver

Mas eu
dela distante
ando inclinado
oblíquo
sem a poder esquecer

Sou um viandante
sempre ausente

um desertor
“omniausente”
livre mas enjaulado

Gostaria antes de ser ubíquo
de poder estar lá
e aqui
ao mesmo tempo
em todo o lado

Vê-la
e tê-la
a ela
sempre abraçado

Amor
na verdade
é ubiquidade


terça-feira, 19 de julho de 2016

Ouvindo o silêncio em solidão



Dá-me prazer ouvir
o silêncio
em solidão

Prazer que advém da alegria interior
de procurar companhia
mais além
fora do mundo
e do tempo

De ouvir em meus ouvidos
o ruído que traz o vento
do cosmos profundo

De o sentir em todos os sentidos
e de o calar
bem fundo
dentro de mim
para aí o interpretar

Fora da razão
ainda assim