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sábado, 22 de outubro de 2016

Sex-appeal



Cruza e descruza as pernas
delgadas
longas
com sensualidade
dando fugaz liberdade a virgindade

Solta sorrisos etéreos
em silêncio
mas nada me diz

Chispa olhares faiscantes
que são desejos
relutantes
na alvorada que já não tarda
mas de nada me fala

Sopra novelos de fumo
que se evolam do cigarro que rola nos dedos  sábios
e que mal leva aos lábios
como se fossem malmequeres floridos
defumados
numa já tardia Primavera

Sacode os cabelos soltando pós mágicos
de perlimpimpim
bolas de sabão perfumadas
irisadas de erotismo radiante
que vêm explodir no meu rosto
e me sobem ao nariz
como vapores de vinho mosto

Enquanto isso faz as pedras de gelo a tilintar
no balde que em que resfria
o espumante
e acalenta estuante alegria
de me querer conquistar

Debalde

É madrugada entretanto
ainda assim


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 8 de Agosto de 2011
Henrique Pedro

terça-feira, 18 de outubro de 2016

À janela, a ver chover



Postado à janela
cismado
a ver chover
sem ter que fazer
nem para onde ir
entristeço

Nos campos sente-se a erva medrar
com tanto calor
e humidade

Os cães pararam de latir
os pássaros deixaram de voar
esmoreço
desolado
a ver
chover
no molhado

Há dias assim
sem alegria
nem beleza
dias em que até a poesia
induz tristeza

Amiúde deito a cabeça de fora
para espreitar o céu
com desejo de partir

E vou-me embora
sem sair
deixo-me ficar onde estou
até ver

Sem ter para onde ir
sem nada ter que fazer


segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Será seu este Citizen Card?





De quem é não tem interesse
já se vê
nem a mim mesmo me interessa saber
sequer

De um simples Cartão de Cidadão se trata
(de um Citizen Card)
que a todos nos maltrata

Um nome e um apelido
uma minúscula fotografia do rosto 
sem alegria nem fantasia
(deveria estar, sim, nele retratado o coração dorido, afim ou malsão)

Um número de contribuinte, a tal identificação fiscal
(que por certo não terá quem for pedinte)
uma letrinha pequenina para o sexo
(ao que parece, irão pôr mais letras indicativas do género e da classe social)

A medida da altura
(que omite a nossa postura na vida e na sociedade, se falamos ou não verdade)
mais o número de utente do Serviço Nacional de Saúde
e da Segurança Social
seja são ou doente
e mais números ainda sem significado
trate-se de pessoa de virtude ou de pecado

Ao real humano ser que somos
nem se alude

Resumindo

Não importa o que somos ou o que fomos

Apenas uma dúzia de dados
para alguém dar ou vender
pois então
destinados a serem manipulados
repartidos
e abatidos
se acaso o Orçamento de Estado 
(ou a Segurança Nacional) 
para nosso mal e a Bem da Nação
assim o entender

Quem é você não tem interesse
já se vê
nem a mim mesmo me interessa saber
sequer

A mim só me importa saber o que sou
isso sim
porque isso eu não sei!

Embora saiba que sou mais que a estúpida amargura de não ser
aquilo que outros gostariam que eu fosse
ou que me impelem a que seja

Herói de banda desenhada
notícia desejada
cidadão eleitor
impostor
pagador de impostos
utente de qualquer coisa
e mais nada

Embora saiba que não sou aquilo que gostaria de ser
que não sei se sou
mas que poderei ser sem saber!


Vale de Salgueiro, quarta-feira, 28 de Abril de 2010

sábado, 15 de outubro de 2016

Silvas e Roseiras em Flor




Silvas

daninhas

marginais

floridas de florinhas pequeninas

suavemente coloridas

emolduram os muros

que marginam

os caminhos

rurais

 

Espinhosas

como as rosas

que são mais vistosas

nos canteiros

dos quintais

 

As silvas dão amoras

saborosas

enquanto as rosas

de pendor mais romântico

se esvanecem em perfume

e cor

enigmático cântico

de dor

amor 

e ciúme

 

Silvas e roseiras

ambas espinhosas

ambas em flor

o mesmo hino

sibilino

de louvor

ao Criador

 

Vale de Salgueiro, sábado, 12 de Junho de 2010

Henrique António Pedro


 

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Dando tempo ao tempo




Apercebo-me de um mais débil pulsar
de badalas langorosas de cansaço
corro a dar corda aos meus relógios
para assim os espevitar
não vão eles parar
e com eles parar o tempo

Iludo-me…

Pensando que o tempo sou eu que faço
mas o tempo não tem origem em mim
apenas o mais puro sentimento
me vem de dentro

Ainda assim...

Como os maquinismos mecânicos
prolongam as horas e os dias
dos mecanismos do tempo
em badaladas mais sonoras
e prolongadas

Também…

Os beijos e os afagos
animam o bater dos corações
e reanimam
com seu calor
as maquinações da relojoaria do amor
e dão mais tempo
ao tempo

Mas o tempo…

Sempre está a acontecer
esgota-se por si só
com dor e desdém
sem dó nem piedade
e tudo acaba por morrer
deverdade

A menos que a mecânica celeste
com sua engrenagem cor-de-rosa
nos conduza em viagem
mais esperançosa
no além


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

E se os humanos fossem pássaros?




Esta recomendação faço com emoção
ao Criador

Se acaso entender corrigir a Criação
então
que faça dos humanos
desta vez
aves

Que os coloque de novo sobre as árvores donde desceram
(Como defendem os evolucionistas)
mas que não permita que agora as deixem
jamais

Que fiquem por lá para sempre
ganhem penas e asas que os habilitem a voar
como as pombas, os pintassilgos ou os pardais

E que voem aos pares pela Primavera
que se amem com arrulhos
a saltar de ramo em ramo
a chilrear
bastando uma amorosa bicada
em pleno ar
para o homem–pássaro galar a mulher-ave
e a engravidar


Que por lá construem seus ninhos
nos quais a nulher-ave porá os seus ovinhos
que chocará com seu calor maternal
até que a casca quebrar e soltar os meninos-passarinhos
que só abandonarão o ninho
quando souberem voar



Será assim mais fácil lançar-se o homem na exploração espacial
não terá necessidade de construir aeroportos
auto-estradas
arranha-céus
nem de transformar o planeta Terra
num cometa

Porque tudo
ou quase tudo
desde o nascer, ao amar, ao morrer
se passará como com as aves

No ar


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 27 de Abril de 2009
Henrique Pedro