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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Dulce, paixão adolescente




Hoje deixei a doce Dulce
minha paixão adolescente
impaciente
desleixada
abandonada num banco de jardim

Amanhã  Dulce azedará
irá ficar todo o dia zangada
enciumada
arrufada

Mas depois de amanhã será um outro dia
tudo recomeçará com igual magia
a mesma impaciência
a mesma rebeldia de adolescência

Dir-lhe-ei de novo que a amo
e ela o mesmo a mim me dirá

Era assim, agora me recordo…

Era deslumbrados
com aquela paixão de adolescentes
que sempre retomávamos os jogos inocente s
de beijos e desejos
e inesperados arrufos de namorados

Até que um dia aconteceu
 uma mais adulta impertinência

Paciência

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Levitação






Agora mesmo
como se não houvesse amanhã
nem tivesse havido ontem
nem a hora passada
e vivesse uma eternidade desmemoriada
no presente ausente

Sem um relevante pensamento
um apetite evidente
uma ideia emergente

Na tranquilidade absoluta
de quem não vai nem vem de luta alguma

Sem dar conta do tempo passar
sem um zunido sequer que me possa enervar
fora ou dentro dos ouvidos

Com todos os sentidos a funcionar esplendidamente
tanto que nem eles se dão conta de si
por nada terem que a mim me dizer

De corpo relaxado
e de espírito enlevado
de cérebro todo tomado pela consciência
e a consciência a monitorizar apenas a alma

Sem amor
sem ódio
fantasia ou contrição
tristeza ou alegria
teorema ou dilema
sem motivo de glória ou de frustração
saudade ou nostalgia

Em puro deleite de verdade 
e poesia
com o cordão umbilical bamboleante preso ao presente poema
leve como pluma vogando na bruma
venço a gravidade
entro em levitação

Voo até Deus sem dizer adeus

Vale de Salgueiro, sábado, 5 de Maio de 2012
Henrique Pedro



segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Estes são os meus sinais



Desloco-me pelo mundo
deixando mil marcas deléveis
por onde passo

O rastro dos meus sapatos
a assinatura  térmica do meu espectro infravermelho
as sombras que projecto em superfícies opacas
os reflexos em superfícies espelhadas
os sulcos no solo em que ajoelho e me ergo

O suor
o sangue
o sémen
o pranto
outros humores e fluxos fisiológicos
e os demais sais minerais
ruídos
gritos
sorrisos
suspiros
e “ais”

Mais as indeléveis mensagens de amor
nos poemas que escrevo
nas árvores que planto
no calor humano que dispenso

Sonhos e enganos que me marcam a alma

Desloco-me apenas em parte do Planeta
área ínfima do Cosmos
mas deambulo por todo o Universo
sempre que viajo por mim adentro
tentando alinhar um verso

Estes são os meus sinais



sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Amora silvestre



Recordo-a agora que é tempo de vindimas
de cânticos de meninos e meninas
que os silvedos que bordejam os caminhos floriram
e se emolduraram de botões de amora
doces
pequeninos

Nunca me dera por ela embora a tivesse ali
ao alcance das mãos que se apertavam
dos braços que por tudo e por nada se abraçavam
dos rostos que amiúde se tocavam
dos sorrisos que a toda a hora se trocavam
dos olhares que se conluiavam

Porém
naquela manhã louçã
na verde verdade da mocidade que não mente
certo e sabido que uvas
amoras
espigas
e raparigas
amadurecem simultaneamente
mas os rapazes só mais tarde

Na sequência da brincadeira
colocou ela uma amora silvestre
preta
aveludada
entre seus lábios carnudos
carmim
e de olhar lampejante de sedução
me desafiou a mim
matreira
a que lhe roubasse a doce drupa
não com a mão
mas com os lábios ávidos do coração

Percebi
não resisti
e lancei-me de imediato
na inocente disputa

Aconteceu o inesperado
porém

Quando os nossos lábios se tocaram
todos os sentidos falaram
soltando descargas eléctricas
magnéticas
por todo o lado

Segurei-lhe a cabeça pela nuca
para a agarrar com força
ela fez-me o mesmo a mim
donde resultou que sem querer
e sem eu saber
naquela mesma hora
se esborrachou a amora do amor
e os lábios
os rostos
coração
se pintalgaram
com o sumo da paixão


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 6 de Novembro de 2008
Henrique Pedro




quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Uma rosa negra de tristeza



Marianinha anda triste…
…triste…triste…triste

Uma rosa negra de tristeza
lançou raízes em seu coração
capazes de o fazer morrer

Cravou espinhos agudos
em todos os seus órgãos
que a todos fazem doer
sem compaixão

E perfumou de tristeza
todo ar à sua volta

Só de tristeza
Marianinha anda envolta

Marianinha está triste
…triste…triste…triste

E ninguém a poderá consolar
o amor de Marianinha partiu
fugiu para o lado de lá do mar

Marianinha anda triste
…triste…triste…triste
de morrer

É uma rosa negra da tristeza
em toda a sua pureza
só o tempo a poderá alegrar
pôr sorrisos novos em seus lábios
no seu ventre filhos semear
fazer dela mulher