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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Amar nunca é demais




Tanto sonho havemos de sonhar
que acabaremos por transformar
o sonho em realidade

Tanta ilusão havemos de construir
que acabaremos por cair
na realidade

Tanta coisa havemos de comprar
e vender
que acabaremos por aprender
o seu real valor

Tanta mentira havemos de urdir
que prenderemos a discernir
a pertinaz verdade

Tanto havemos de pensar
que acabaremos por ganhar
consciência plena de nós

Tanta guerra havemos de travar
que acabaremos por proclamar
a paz
de viva voz

Tanta dor havemos de sentir
que acabaremos por descobrir
o que nos faz sofrer

E tantas paixões venais
havemos de viver
que aprenderemos a reconhecer
o verdadeiro amor
e que amar
nunca é demais





quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Quando a minha alma em mim anda perdida




A casa vazia
o televisor aceso
sem som
silêncio constrangedor

Um cálice de vinho do Porto
semivazio
meio morto
que não bebo
nem encho
se esvazia
de filosofia
com poesia

Mergulho
mais e mais
na mais amarga solidão

Descubro
com emoção
que existo
quando a minha alma
anda perdida
em mim
e eu não sei que lugar ocupo
no Cosmos

Mas eis que o telefone toca!

É quem me ama que me chama!

Emerjo na piscina da alegria
qual campeão olímpico
ovacionado pela multidão
imagem de caleidoscópio

Agradeço os aplausos

Aplaudo-me a mim próprio



segunda-feira, 21 de novembro de 2016

É na escuridão mais escura que a alma mais luz




Abro o livro
e leio

O meu espírito espevita

Ouço a voz seca de Séneca
que em seu douto pensamento
há séculos
ao vento
grita:
“Deixarás de ter medo quando deixares de ter esperança.”

É a mim que me ouço feito criança
em desassossego

À luz do dia
tomado pelo instinto
tinto de emoção e ilusão
deixo de me ver
e de me ouvir

À luz do dia
de ambição imbuído
a ideia é ruído

No escuro
melhor  me oiço e mais bem vejo
sei o que procuro
e o que desejo

No escuro mais medo sinto 
mais a mente anseia
a esperança renasce
o silêncio é ideia
divino enlace

Abro o livro
e leio
e releio “ A Noite Obscura” de João da Cruz

É na escuridão mais escura
que a alma mais luz

 
Henrique Pedro
Vale de Salgueiro, 3 de Fevereiro de 2008

sábado, 12 de novembro de 2016

A minha versão dos factos



Uma taça de cristal
sem fim
a transbordar
de água cristalina

Ramos de rosas
amorosas
em tálamo nupcial
perfumadas
armadas de espinhos

Se fosse outra
a flor
seria jasmim
da cor da aurora
a perfumar os caminhos

Poesia a florir em mil fractais
a alagar o Cosmos
de espiritualidade
e ais
de angústia
de uma eterna saudade

Ouve-se então
o tropel do coração

Nem anjos
nem deuses
nem diabos
em contrição

Não sabemos o que somos
mas é para anjos que vamos
ao fim e ao cabo
assim apaixonados

Pecamos com virtudes
santificamo-nos com pecados

Esta a minha versão dos factos

Seguramente a mais próxima
da verdade



in Anamnesis (Jan 2016-Ed. Autor)



sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Naquela noite o céu pegou fogo




Naquela noite o céu pegou fogo

 

O Universo entrou em guerra

pegou fogo o Céu

enquanto a Terra se cobria

com um véu

de afrodisia

 

Epílogo sagrado do virtuoso amor

dum homem e duma mulher

que em sua fé congraçados

e fiéis ao mandamento

haviam acordado

a virgindade manter

e ambos sofrer

a dor da castidade

até à noite do casamento

 

E assim foi que só depois do matrimónio

terminado o contrato sagrado

e fartos desse seu doce penar

deram por fim liberdade

ao prazeroso jogo

da pulsão da paixão

 

Então o Cosmos entrou em guerra

o Céu pegou fogo

e a Terra se cobriu

com um véu de fantasia

 

Que nenhum anjo ou demónio

ousou apagar

porque tal fogo era o Amor

divinal

aceso no Céu armado no tálamo nupcial

e pelo incendiário abençoado

que é Deus

  

Vale de Salgueiro, terça-feira, 9 de Fevereiro de 2010

Henrique António Pedro