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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Lapsos de amor e memória




Bebo café

em pé

ao balcão de uma qualquer pastelaria

 

O meu espírito anda longe dali

os olhos passeiam-se

absortos

por todo o lado

repousando vagamente em quem entra

e quem sai

sem segunda intenção

 

Neste ínterim

a empregada

mulher linda

traz-me um pastel de nata

e pergunta-me se quero canela

 

A nata não seria para mim

mas de pronto respondo que sim

com mesura

e mais digo sem pensar

tocado pela sua formosura

que a quero a ela

                        

Em dois momentâneos lapsos de tempo

acontecem dois simultâneos amorosos lapsos de memória

de amor, café e canela

agridoce rapapé

sem vanglória

 

Fiquei sem saber quem eu era

onde estava

o que fazia ali

e qual seria o meu papel na história

 

Ante o meu embaraço

a empregada

sorri

ruborizada

 

Oh, que dilema!

 

De pronto recupero a lucidez

anoto o sorriso

perdão

o poema

num guardanapo de papel

sem mais demora

 

A empregada sorri-me outra vez

agora descarada

de soslaio

mas eu sem mais nada

saio

 

Venho-me embora

não vá ter outro relapso lapso de memória

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 11 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro

 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Uma piedosa mentira de amor



Disse-lhe que a amava
ela acreditou


Alegrou-me a alegria
que o seu espírito extravasou
em beijos
abraços

e gritos

Muito mais do que eu esperava

desse amor que a espaços

eu vinha deitando a perder

Ainda sinto remorsos

confesso

contrito
de não lhe ter dito a verdade
por pensar

que mais a faria sofrer a ela

do que a mim penar

A verdade é que amo aquela mulher
não como ela me ama a mim
mas amo-a de verdade

ainda assim

Fico à espera que seja ela a descobrir

docemente e sem penar

que não a amo como ela quer

por ser diferente o meu querer

Esta a virtude que a mim me ilude

se é que há virtude em mentir
ainda que por amor sentir


Esta a razão de ser
desta amorosa
piedosa
mentira


Perdoa-me! Amor!


Vale de Salgueiro, sábado, 12 de Junho de 2010

Henrique António Pedro


sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Abra este presente





Ontem fiz anos!

E também fiz anos de facto
no ano transacto
e nos precedentes

Dia de anos é uma festa frequente
um dia de alegria
sem mácula de nostalgia
mais votada a viver que a morrer
a fazer anos que anos desfazer

Vivemos do encanto de quem amamos
por isso eu não os conto
nem desconto

Direi
portanto
que já nem sei há quanto
nem quantos conto ou desconto
quantos faço ou desfaço

Embora já tenha muito que contar
e continue a reclamar o quanto ainda não amei
o muito que ainda tenho para amar

Uma festa de anos é sempre um clamor de amor
que mede a idade da amizade
a força da alegria
a poesia da felicidade



Aqui deixo e não desleixo
o meu conselho
a quem for mais novo
ou da mesma idade
mais velho por feliz sortilégio

Não seja demente
faça anos sempre em festa
não conte os que lhe resta
nem ao passado remonte
que estar vivo é privilégio
e fazer anos um presente



sábado, 3 de dezembro de 2016

Deus?! Deus é assim como Deus é.


 

Deus é como Deus é

é assim como o Amor é

Só o vê e sente o Amor

ou no Amor crê

quem vive apaixonado

 

Deus é como Deus é

é assim como o Saber é

Só sabe quem procura saber

enamorado

 

Deus é como Deus é

é assim como a Verdade é

Só a conhece quem a pratica

desapaixonado

 

Deus é como Deus é

é assim como a Felicidade é

 

Só a tem

quem com esperança

a espera

Deus é assim como Deus é

 

Nós apenas apenas desconfiamos

mesmo se acreditamos

como Deus é

 

Deus é como Deus é

Só Ele sabe como Ele é

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 4 de Outubro de 2010

Henrique A. Pedro

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Quem é quem amo?


Quem é quem amo?

Muitas vezes me quedo parado
a olhar
com os olhos do rosto
e da alma
a quem amo de verdade

Depois dou por mim deslumbrado
sem que saiba porquê

Assim como
quando
fascinado
me deixo ficar extasiado
pelo nascer do sol
ou pelo sol-posto

Quem sou eu?

Donde venho?

E quem é quem amo?

Este deslumbre de amor
não é racional

É um portal
da eternidade

É um divino fascínio
que me faz acreditar
e a mais
e mais
Amar

Henrique António Pedro

in Anamnesis (Ed. Autor- Jan 2016)