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domingo, 1 de janeiro de 2017

Quando a alma nos dói



O corpo
quando nos dói
dói-nos por partes
nunca nos dói todo
inteiro
apenas em parte
nos dói

Dói-nos um pé
uma mão
o peito
o coração
cada um com sua dor

E quando sentimos prazer
também sentimos por partes
distintas formas de gozar
cada uma com suas artes

Sentimos o tacto
o sexo
o sabor
o olfacto
o ouvido
o olhar

Mas a nossa alma
quando ama
ou sente dó
sofre e ama inteira
toda
verdadeira

Porque a alma é una
uma só



sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Amanhã a Humanidade faz anos






Amanhã
a Humanidade faz anos

Ou será que será só depois de amanhã
num futuro longínquo que jamais chegará?!

Amanhã
a Humanidade faz anos

Ou será que faz anos a Desumanidade
já que há tantos infelizes a sofrer
a penar
a morrer?

Amanhã
a Humanidade faz anos

2016 a somar
a muitos mais sem conta
que é bom
nem lembrar

2016  a sair
2017 a entrar
gente tonta a gritar e a bailar
garrafas de espumante a estourar
bombas a explodir
vícios e fomes a eclodir
guerra por toda Terra
o planeta a definhar

Amanhã
a Humanidade faz anos

Ou será que é a Desumanidade?



Vale de Salgueiro, 29 de Dezembro de 2016



quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Roubaram Jesus do Presépio


Tiraram o Menino Jesus das mãos da Virgem Maria, Sua mãe

e das de São José,  Seu pai

para pôr a Divina Criança a dormir ao relento

nua

no meio da rua

sem esperança

nem razão de ser de tanto sofrimento

 

Roubaram o Divino Menino do épico presépio

foi o que foi

 

Quem!?

 

Os donos do mundo, quem haveria de ser

e todos nós também, para seu contento

 

Contrataram, então, um velho barbudo anafado

cognominado Pai Natal

à margem do Evangelho

promovido a chavão comercial

para vender o feno, a palha

e o esterco de curral

 

Que Deus nos valha!

 

Ventos de miséria e de guerra

sopram agora por toda a Terra

a Paz jaz sepultada em túmulos de dor

lado a lado com o Amor

e a verdadeira Luz

 

Neste mundo governado por pilatos devassos

e tirânicos herodes

ogres satânicos

facínoras dementes

que assassinam santos inocentes

tentando matar à nascença

o pequenino Jesus

 

Que terrível desaforo!

 

Escarnecem da Virgem Maria

tratam São José com aleivosia

vilipendiam Cristo e a Cruz

 

É tempo de choro e de ranger de dentes

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Dezembro de 2012

Henrique António Pedro


domingo, 18 de dezembro de 2016

Um sonho universal




Sempre sonho
pelo Natal
este sonho universal

Que o calor da minha lareira
aquece a Humanidade inteira

Que a minha melhor comida
a todos é servida

Que o amor da minha família
por todo o mundo se irradia

Que a paz do meu lar
por toda a parte
se reparte

E sempre fico a desejar
que a ideia deste dia
não se aparte
do meu pensamento
e seja mais que poesia

Sempre sinto pelo Natal
este doce sentimento

E sempre fico a sonhar
que um dia há-de chegar
o Natal universal



quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Lapsos de amor e memória




Bebo café

em pé

ao balcão de uma qualquer pastelaria

 

O meu espírito anda longe dali

os olhos passeiam-se

absortos

por todo o lado

repousando vagamente em quem entra

e quem sai

sem segunda intenção

 

Neste ínterim

a empregada

mulher linda

traz-me um pastel de nata

e pergunta-me se quero canela

 

A nata não seria para mim

mas de pronto respondo que sim

com mesura

e mais digo sem pensar

tocado pela sua formosura

que a quero a ela

                        

Em dois momentâneos lapsos de tempo

acontecem dois simultâneos amorosos lapsos de memória

de amor, café e canela

agridoce rapapé

sem vanglória

 

Fiquei sem saber quem eu era

onde estava

o que fazia ali

e qual seria o meu papel na história

 

Ante o meu embaraço

a empregada

sorri

ruborizada

 

Oh, que dilema!

 

De pronto recupero a lucidez

anoto o sorriso

perdão

o poema

num guardanapo de papel

sem mais demora

 

A empregada sorri-me outra vez

agora descarada

de soslaio

mas eu sem mais nada

saio

 

Venho-me embora

não vá ter outro relapso lapso de memória

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 11 de Dezembro de 2009

Henrique António Pedro

 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Uma piedosa mentira de amor



Disse-lhe que a amava
ela acreditou


Alegrou-me a alegria
que o seu espírito extravasou
em beijos
abraços

e gritos

Muito mais do que eu esperava

desse amor que a espaços

eu vinha deitando a perder

Ainda sinto remorsos

confesso

contrito
de não lhe ter dito a verdade
por pensar

que mais a faria sofrer a ela

do que a mim penar

A verdade é que amo aquela mulher
não como ela me ama a mim
mas amo-a de verdade

ainda assim

Fico à espera que seja ela a descobrir

docemente e sem penar

que não a amo como ela quer

por ser diferente o meu querer

Esta a virtude que a mim me ilude

se é que há virtude em mentir
ainda que por amor sentir


Esta a razão de ser
desta amorosa
piedosa
mentira


Perdoa-me! Amor!


Vale de Salgueiro, sábado, 12 de Junho de 2010

Henrique António Pedro