Fixo o
olhar
sem contudo olhar
sem contudo olhar
para
nenhum lugar
Deixo o tempo correr
em
silêncio
ouço o relógio do cosmos
a tiquetaquear
o cronómetro da vida
a gemer
ouço o relógio do cosmos
a tiquetaquear
o cronómetro da vida
a gemer
A pedra em que reclino a cabeça
trilha-me a pele do crânio
o coração
espontâneo
entra a fibrilar
Porque se não liberta já a minha alma?
Porque não saio eu de mim?
Será que alma não tenho?
Porque continuo assim
prisioneiro de ossos e músculos
glândulas e vísceras
de ideias abstrusas
e sem
nexo?
Porque me amarro ao espaço
e ao tempo
se o espaço se limita no infinito
e o tempo se esgota na eternidade?
Se não tivesse alma
também o meu corpo não tinha dono
e andava ao abandono
ao deus-dará
Porque me amarro ao espaço
e ao tempo
se o espaço se limita no infinito
e o tempo se esgota na eternidade?
Se não tivesse alma
também o meu corpo não tinha dono
e andava ao abandono
ao deus-dará