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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Sempre me dizia que partia mas ficou




Mil vezes ela me dizia
que partia
amuada
mas sempre ficou
ainda mais apaixonada

A toda a hora me dizia
que se ia
embora
e voltou

Eu sabia que sempre que ela partia
não tardava
que curta seria
a demora

Mil vezes o meu coração se partia
mas me dizia
que ela apenas pretendia
que eu lhe desse mais atenção
mais ainda da que lhe dou
agora

Vou continuar a deixá-la dizer
que vai
e não vai
a ir e a vir
a partir e a ficar
a fazer o que quiser

Mais atenção ainda assim
ela a mim
me vai dar

E só não lhe digo que eu
também me vou
com o receio
que de permeio
ela se vá
e vá demorar



domingo, 19 de fevereiro de 2017

À paixão trá-la o desejo e leva-a o vento




Para a paixão se formar
e nos prender
nas pernas da centopeia
nos queimar no lume
do ciúme
e fazer sofrer
basta um ar
ameno

Basta uma brisa
um aceno
uma doce melopeia
um toque de realejo

Um olhar expressivo
sem motivo
um gesto impensado
um sorriso calado

Um prazer a menos
e um desejo a mais

 A picada dum percevejo
um beijo 
uma inesperada emoção

E o adejar duma mosca
uma palavra tosca
um vento a destempo
para a transmutar 
em tormento
num vendaval de desilusão

À paixão
trá-la o desejo
e leva-a o vento

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 6 de Abril de 2011
Henrique Pedro


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Tristeza deliquescente




Esta melencolia que me assola
em dias de chuva aborridos
ou quando o sol poente
me deixa lânguido da saudade
de quem anda ausente
estando embora presente
é uma tristeza deliquescente
mais própria dos vencidos

Abandono-me à nostalgia emergente
e paro de me angustiar
viro as costas às perguntas do costume
que sei
de antemão
não terem respostas

É quando uma morrinha miudinha
me toma os sentidos
a ponto de não me sentir nada
nem ninguém
magma
ou matéria
nem em nada materializado
em nenhum estado de espírito realizado

Fico sem saber se ainda estou aqui
ou se já vou além
se a poesia é coisa séria
ou não passa de uma pilhéria

Até que o ensejo de um bocejo
me faz despertar dessa sonolência demente
e retomar a vida corrente



sábado, 11 de fevereiro de 2017

Grito!



Consola-me constatar
que mesmo no escuro
consigo sentir

E pensar

Aprisionado nas frias masmorras da dúvida
e da angústia
onde apenas entra alguma luz
difusa
pelos olhos
e alguns sons
estereofónicos
pelos ouvidos
sinto-me amarrado a tudo que transporto comigo
e de nada me valem músculos e membros

Desesperado
agarro-me às grades e grito
no silêncio

Grito pelo carcereiro
na esperança de me fazer ouvir no universo inteiro
e de que alguém me virá libertar

Mas apenas ouço os meus gritos ecoar
e ressoar
dentro de mim
como em poço sem fundo

Porque é em mim que estou preso
numa prisão do tamanho do mundo

Apesar de tudo
consola-me constatar
que mesmo mudo
consigo gritar



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Um poema e dois dedos de angústia





Ando angustiado
por tudo
e por nada
embora esteja certo de não ser demente
nem estar doente
ou andar enamorado

Sinto-me sem valor
nulo
inseguro
com medo de tudo

Fico quedo
enfadado
tomado de desconhecido temor

Angustia-me o futuro
amargura-me o passado

Se tento não me angustiar
uma maior angústia larvar
acaba por se impor
contrária ao meu querer

Tem tudo a ver
com este mundo malvado



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia





A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia

 

São boas recordações ainda assim

embora me mortificam e desalentem

porque o tempo e o vento as transformam em saudade, soledade e nostalgia

e me deixam aborrido

ferido

sem alegria

à procura de novo sentido para a vida ainda não vivida

 

A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia

 

A mesma saudade que, contudo, se transmuta em apelo do futuro

em fé no devir

em razão de ser e sorrir

por força de quantos não amei tanto quanto devia ter amado

e de tudo que não vivi

 

Ainda estou em tempo de remir ainda assim

 

A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia

mas ainda assim poderei mais amar

com redobrada soledade e nostalgia

 

A quantos a quem amei embora não tanto quanto devia

esta elegia da saudade

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 27 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro