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domingo, 20 de julho de 2025

Ainda ando à procura de Deus em 2025

 



Ainda ando à procura de Deus

o que venho fazendo a cada passo

em tudo que faço

sempre que me projecto mais além

desde que fui ejectado

do útero de minha mãe

 

Não gostaria de ter ficado por lá

de não ter nascido

porque só para procurar Deus

neste mundo de dor e amor

vale bem a pena ter vivido

 

Não se trata de ma mania como outra qualquer

igual

certamente

à obtenção de uma mulher

ou de um bocado de pão

de um abrigo

de um trabalho

como um mendigo esfomeado

ou um trabalhador indigente

 

Mulher já encontrei

pão

abrigo

trabalho

mas Deus não mora ainda na minha Razão

continuo a sentir a Sua falta

no meu coração

 

Tudo tenho feito para o encontrar:

trabalhar

rezar

cantar

gritar

suplicar

 

Já orei nos maiores santuários

já respirei como os iogas mandam

já gritei ao vento

já dei esmolas a mendigos e santos

já carreguei uma cruz

Já me incensei e perfumei

Já me inundei de luz

 

Já dormi ao relento como os místicos

e refresquei o crânio nas águas correntes do rio

para acordar de noite mal dormida

e poder absorver a energia cósmica

já louvei o Sol ao nascer do dia

já escrevi poesia

 

Já partilhei amor e prazer

com as mais belas mulheres

em ambiente de verdade e elevação

na ideia de que essa humana paixão

poderia conduzir aos céus

 

Já pratiquei astronomia

e espreitei por telescópios para os confins do universo

por potentes microscópios para a fundura das células

e estou a fim de viajar para as estrelas

na primeira nave espacial

que largar o sistema solar

 

Mas continuo sem ver a Luz à minha volta

nem mesmo dentro de mim sequer

apenas os brilhos cintilantes das estrelas distantes

e a luz do dia

o Sol ofuscante

a iluminação eléctrica da cidade

apenas vejo muitas dores de verdade

 

Dor

apenas dor

fome e guerra

vício e miséria

fumo negro

muito espesso e negro

o fumo dos instintos humanos

do egoísmo

do comodismo

e da ambição e dos enganos

que toldam os espíritos e nos impede de ver a Deus

por mais que O procuremos nos confins do Universo

por mais potentes que sejam os microscópios

e os telescópios

por mais céleres que sejam as naves espaciais

 

Deus está, por certo, muito mais perto

talvez dentro de nós

por isso o não vemos com microscópios

nem telescópios

nem o alcancemos com naves espaciais

 

Percebo-O aqui por mais perto

na peugada dos grandes místicos

reflectido em ondas de Amor

no desprendimento e na humildade

no coração puro e na razão do bem

na força da verdade

por certo

 

A Deus

tenho esperança de O encontrar

aos pés da cruz de Jesus

ao lado de Sua Mãe também

 

Vale de Salgueiro, 11 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro