Ainda ando à procura de Deus
o que venho fazendo a cada passo
em tudo que faço
sempre que me projecto mais além
desde que fui ejectado
do útero de minha mãe
Não gostaria de ter ficado por lá
de não ter nascido
porque só para procurar Deus
neste mundo de dor e amor
vale bem a pena ter vivido
Não se trata de ma mania como outra qualquer
igual
certamente
à obtenção de uma mulher
ou de um bocado de pão
de um abrigo
de um trabalho
como um mendigo esfomeado
ou um trabalhador indigente
Mulher já encontrei
pão
abrigo
trabalho
mas Deus não mora ainda na minha Razão
continuo a sentir a Sua falta
no meu coração
Tudo tenho feito para o encontrar:
trabalhar
rezar
cantar
gritar
suplicar
Já orei nos maiores santuários
já respirei como os iogas mandam
já gritei ao vento
já dei esmolas a mendigos e santos
já carreguei uma cruz
Já me incensei e perfumei
Já me inundei de luz
Já dormi ao relento como os místicos
e refresquei o crânio nas águas correntes do
rio
para acordar de noite mal dormida
e poder absorver a energia cósmica
já louvei o Sol ao nascer do dia
já escrevi poesia
Já partilhei amor e prazer
com as mais belas mulheres
em ambiente de verdade e elevação
na ideia de que essa humana paixão
poderia conduzir aos céus
Já pratiquei astronomia
e espreitei por telescópios para os confins
do universo
por potentes microscópios para a fundura das
células
e estou a fim de viajar para as estrelas
na primeira nave espacial
que largar o sistema solar
Mas continuo sem ver a Luz à minha volta
nem mesmo dentro de mim sequer
apenas os brilhos cintilantes das estrelas
distantes
e a luz do dia
o Sol ofuscante
a iluminação eléctrica da cidade
apenas vejo muitas dores de verdade
Dor
apenas dor
fome e guerra
vício e miséria
fumo negro
muito espesso e negro
o fumo dos instintos humanos
do egoísmo
do comodismo
e da ambição e dos enganos
que toldam os espíritos e nos impede de ver a
Deus
por mais que O procuremos nos confins do
Universo
por mais potentes que sejam os microscópios
e os telescópios
por mais céleres que sejam as naves espaciais
Deus está, por certo, muito mais perto
talvez dentro de nós
por isso o não vemos com microscópios
nem telescópios
nem o alcancemos com naves espaciais
Percebo-O aqui por mais perto
na peugada dos grandes místicos
reflectido em ondas de Amor
no desprendimento e na humildade
no coração puro e na razão do bem
na força da verdade
por certo
A Deus
tenho esperança de O encontrar
aos pés da cruz de Jesus
ao lado de Sua Mãe também
Vale de Salgueiro, 11 de Fevereiro de 2008
Henrique António Pedro