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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Guardo o cérebro num frasco de formol



Angustiado
tremendo de medo
extirpo o cérebro com as minhas próprias mãos
para o expor ao sol e ao vento
e guardá-lo a meu lado no frasco de formol
colocado no penedo que me serve de assento

Com a mão direita espremo a memória
com a esquerda aperto a razão
que balanço com angústia incontida
tentando determinar
qual parte da consciência pesa mais
para a alma assim dissolvida

A memória apenas regista o instante em que a perdi

Será que algum dia existi?

A razão me diz que sem memória em que se apoiar
não poderá escrever história
fazer ciência
e projectar o devir

Será que algum dia voltarei a existir?

Da memória e da razão de mim separados
são os meus sentimentos levados pelas águas do rio
para o mar da loucura colectiva
onde enlouquecem

Enterradas nas areias
ficam
mesmo assim
ideias furtivas
que não aquecem nem arrefecem

Nada sinto
nem de bem nem de mal
não choro
não rio
nem sei onde moro
se existo
ou existirei

Apenas sei que sou consciência incorpórea
sem história
nem memória

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Ser poeta, a meu ver



Ser poeta, a meu ver
não é ser maior
ou menor
que ninguém
nem ter poder sobre alguém

Ser poeta
é sentir as agruras da vida
mesmo sem as viver

É amar
é sofrer
tudo fazer com poesia
e cantar com alegria
mesmo se se canta a chorar

Ser poeta
é morar no Universo
ser mais ágil que o vento
e mais forte que o tempo

Ser poeta é ser dilema
verso de amor
anverso de dor
disperso de paixão

Ser poeta é ser fogo
ser luz
ser poema

Ser poeta é não ter outra condição


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A balança da verdade



Tenho para mim
que humildade e dignidade
são um manancial de humanismo
uma fonte de esperança
um mergulho na humanidade

Tomo por balança a verdade
e por fiel o meu coração

Para viver a vida com heroísmo
livre de egoísmo
de sentimento ruim
ou cega ambição

Sem que a minha dignidade
tenha o contra peso do orgulho
a minha humildade a tara da vaidade
nem outra sombra de mal

E que a minha humildade
posta no outro prato da balança
em que coloco a minha dignidade
pese por igual
que o seu peso seja o amor
e bem pesado seja o seu valor


domingo, 21 de janeiro de 2018

Vou fugir para o futuro distante




Vou pôr-me a andar daqui
para fora
fugir para o futuro
distante
Já!
Agora!

Farto da miséria
da mentira e da guerra
da corrupção e da poluição
da tragédia que afecta toda a Terra
vou fugir para o futuro
distante
sem demora
e levar comigo todos a quem quero bem

Aqui
e agora
no presente
tudo que é bom é ausente
nalgum lugar distante

Aqui
já nem dá para sonhar
vou pôr-me a andar daqui
para fora
já e agora


quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Quando os poetas amam sinceramente…





Quando os poetas amam 
sinceramente
fazem do amor
poesia

Não se limitam a amar
tão somente
como toda a gente

Quando os poetas sofrem
verdadeiramente
fazem da dor
poesia

Não se resignam a sofrer
tão somente
como toda a gente

Quando os poetas amam 
sinceramente
não sofrem apenas suas dores
nem amam somente seus amores

Amam e sofrem
pelos demais
convertendo dores e amores
na divina fantasia
melodia de lamento e sofrimento
a que se chama poesia

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

No limiar da Fé



Gosto de orar
na ideia de que adormeço
no umbral do pequeno templo da minha aldeia
e viajo Cosmos além
livre de todo o mal


A sonhar que a mão de Deus me afaga
me faz Revelações
como fazia minha mãe
quando  menino
me aconchegava no seu seio


Ciciando-me doces melodias
de amor e de encanto
como se eu fora um santo
um deus pequenino


Eram ecos
e reflexos
do Criador


O meu pensamento voava
por dentro do sonho
para fora do sono
e o meu espírito vogava pelo Universo
iluminado pela  luz
do seu coração


Tento agora
 ouvir de novo os mesmos ecos
ver os mesmos  reflexos
no umbral do pequeno templo da minha aldeia
na ideia que é o regaço de minha mãe


Não encontrei até hoje
melhor forma de me interrogar
outro verso e anverso
 das agruras da vida olhar
sem me sentir vazio
naufrago do nada
sem me angustiar


Era Deus
que descia do Céu
para me falar de Si
com suavidade
mesmo ali
no limiar da Eternidade


Era eu
que a dormir
despertava por dentro
mergulhava no mais profundo de mim
descobria o meu caminho
e me transformava
em profeta daquele espaço
naquele tempo


Para lá do umbral do pequeno templo da minha aldeia
pregada na parede mais umbria
 ergue-se porém uma Cruz
lustrada pela luz trémula  de uma candeia
que ilumina de divino
o destino sonhado
no regaço de minha mãe