Escrevi
aquele poema na minha própria alma
com a
tinta doirada do meu amor
e com toda
a minha arte
na
esperança de que ela o lesse com o coração
Ela
porém tomou-o por burlesco
por literatura
de cordel
Pediu-me
que o anotasse num pedaço de papel
que não
leu
e que
depois de amassado
acabou cremado
em fugaz
incêndio
num
cinzeiro grosseiro
de vidro
vulgar
Sobrou um
montículo de cinza
que com
um sopro
leve
e um despiciendo
piparote
sacudiu
do capote
Não tem porque
se lamentar
agora
que anda
perdida
a esmo
lamentando-se
de me não ter dado a devida atenção
Aquela
paixão
indevida
não passou
disso mesmo
De um
poema escrito num pedaço de papel
que
ardeu
só
porque ela não o mereceu