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quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Puro, Nu e Cru


Dispo a Alma

alijo a Razão

calo o Coração

e sigo em frente

puro, nu e cru

como se acabado de sair ventre

de minha mãe

 

Transfiguro-me em massa amorfa

sem vida nem esperança

em fraga

nuvem

gota

gás

 

Os poemas que escrevi

diluíram-se no vento

das rimas nada mais resta

 

Dos caminhos que trilhei

já o meu rastro se apagou

 

Se tento morrer

noto

porém

a impossibilidade de o fazer

porque ninguém é capaz de se matar

e de se apagar do Cosmos

com ou sem dor

só mesmo o Criador

 

Sou espírito acima de tudo

de novo me transmudo

 

Por isso amanhã lá estarei de novo

na terra que me espera

no chão em que vegeta meu coração

a viver com poesia

a alvorada de mais um dia

 

E depois de amanhã também

indiferente ao vento

à chuva

e ao frio

 

Puro, nu e cru

 

E a sonhar!

 

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 20 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedrodro