Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Eu contra eu



Há momentos em que por momento

me fascinam o silêncio e a solidão

 

Não se trata de ficar só, abandonado

fugido da aspereza da vida

alheado dos sons e das cores da Natureza

 

Falo do isolamento interior

do silêncio do mundo

quando ecos e cambiantes do Cosmos

anódinos

melhor se espelham e ressoam dentro de mim

 

Sinto-me

então

sim, só

em confronto directo comigo mesmo

 

Eu contra eu

 

Só eu contra mim

 

Com os olhos e os ouvidos

com todos os sentidos

e sentimentos

voltados para dentro de mim

 

Falo então comigo assim

com o meu umbigo

e o mais que consigo

é não compreender nada

nada ver e ouvir para lá do meu “eu”

 

Mas é mais forte ainda assim

a minha percepção de mim

daquilo que sou

ainda que não saiba o que faço

nem tão pouco onde estou

 

E melhor assim percebo que existo

qual das ilusões eu não sou

 

E acredito

que bastará uma instantânea eternidade

de silêncio e solidão

bem fora deste inferno

para perceber o Eterno

 

Vale de Salgueiro, 2 de Maio 2008

Henrique António Pedro

 

Sherezade


In Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)

Fito o Sol de frente

na alvorada

no ocaso

e pelo meio dia

correndo o risco de cegar

para tentar perceber

a fantasia

do seu olhar

 

Como posso estar certo de que me sorri

se o véu de seda celeste

que lhe tapa o rosto

também lhe cobre o corpo

e o seu sorriso

não tem som?

 

Leio o tom do seu pensamento

no esvoaçar do véu

que segura na mão

e esvoaça ao vento

a dançar

sem mostrar o coração

 

Ouço-a cantar

com voz de encantar

não percebo o que me diz

 

Continuo à espera

desperto

que se dispa para mim

 

Em pleno deserto!

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 13 de Agosto de 2009

Henrique António Pedro