Seja bem vindo/a. A mesa da poesia está posta. Sirva-se. Deixe, por favor, uma breve mensagem. Poderá fazê-lo para o email: hacpedro@hotmail.com. Bem haja. Please leave a brief message. You can do so by email: hacpedro@hotmail.com. Well done.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Caminhando de mão dada




Numa destas noites mágicas de verão
caminhava eu de mão dada com a minha amada
ambos na doce ilusão de que éramos livres
estando nós prisioneiros do nosso amor
e encarcerados
além do mais
na etérea redoma a que chamamos abóbada celeste
que ainda mais nos acicata o espírito
e nos põe a sonhar

Paro para a beijar
dou-me conta de que bruxuleiam estrelas
no seu olhar

Sendo que cada estrela minúscula 
é um mundo imenso que assim se disfarça
e que cada bruxuleio esconde um número astronómico
anos-luz de tempo e distância

Também no amor se confundem o espaço e o tempo
e por isso a unidade de medida do amor
é o amor-luz

Tudo isto reluz
na luz do olhar da minha amada
quando com ela caminho de mão dada
se reflicto e releio

Ao amor o universo infinito se reduz

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 26 de Junho de 2008
Henrique Pedro

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Fósforo




Cada poema que escrevo
é um fósforo que risco
na noite dos dias
sem luz

Ouço-lhe o ruído breve
característico da ignição
tento por proteger a chama
pequenina
com a concha da mão
o tempo suficiente para acender um círio
de amor sem martírio
num outro coração

Sonhando que arde
aquece
ilumina
anima
e já ninguém mais esquece
porque se ateia
se ata
a outra e outra candeia
em cadeia

É a fogueira da poesia
a chama da ideia
a iluminar a Terra inteira

Mas oh, Deus!
Quantas vezes cada poema que escrevo
é como se fora um fósforo que risco
para acender um cigarro
a que me amarro
para deixar arder
para esquecer

E que arde
sem se ver

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Outubro de 2010
Henrique Pedro

domingo, 25 de novembro de 2018

O enigma felicidade





Vista do lado de fora
à luz do dia
a felicidade chama-se alegria

Por dentro é contentamento

Poderá ver-se num olhar
num sorriso
numa imperceptível expressão facial
num abraço
num aperto de mão
no bater do coração

Até numa lágrima
num embaraço
ou noticiada nalgum jornal
também

Muitos a procuram
porém
nos bares
nos estádios
no sossego dos lares
na religiosidade de um templo
ou até na aspereza da Natureza

Poderá andar por aí, sim 
mas não é aí que a felicidade
se encontra ou mora de verdade

É dentro de nós que a devemos procurar
e só nós em nós a poderemos despertar

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Agosto de 2008
Henrique Pedro

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O imortal morreu




(Honni soit qui mal y pense)

O imortal morreu!

Foi a enterrar com pompa e circunstância
concorrido foi
o funeral

Não consta que haja ressuscitado
pelo menos até ver
a menos que ande disfarçado
ou esteja escondido em algum lugar
à espera de voltar a morrer
quando melhor lhe aprouver

O imortal morreu
contrariamente ao que se previa
tal era o seu brilho e vaidade
mas nenhum milagre 
aconteceu

Persiste contudo a esperança
de que venha a ressuscitar
em mais asados tempos
quando os ventos
soprarem a desconfiança
de vir a vagar
o lugar de Deus

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 24 de Junho de 2010
Henrique Pedro

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Se pequei de amor contigo…





Se pequei de amor contigo
procurei no pecado
a virtude

Crente de que tomava a via do amor
para a verdade
de que o prazer induzia
espiritualidade
e por crer que jamais o amor
gerava dor
e a virtude ilicitude

Sou agora ciente
de que múltiplos são os caminhos da vida

mas um só o sentido da mais pura paixão

O sentido único da iluminação


Vale de Salgueiro, quinta-feira, 25 de Março de 2010
Henrique Pedro

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

50 Sonetos de Amor (XLVII Chegar, amar e partir)




XLVII
Chegar, amar e partir


Ela chegou sôfrega como ele imaginou!
Mas deram um só abraço, bem apertado, ardente…
Sentiam a sofreguidão do desejo pela frente
Assim, ele, como ela, paciente, esperou.

Aquela era, sim, a mulher com quem sempre sonhou
Não haveria razão para estar impaciente
Apenas deles dependia esse amor candente
Ela acreditava, também ele acreditou

E quando entendeu Deus, levá-la, contrariada
Ainda assim, resignada, a Deus ela sorriu
Mas partiu, triste, para sempre a ele abraçada

Mas se ao desejo da chegada dela resistiu
À trágica despedida da vida, inesperada
Agora, triste, para sempre só, ele sucumbiu

Vale de Salgueiro, sábado, 19 de Julho de 2008
Henrique Pedro

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

50 Sonetos de Amor (XXXVIII Teme viver quem morrer teme)



 

Teme viver quem morrer teme


Esse estranho medo de morrer

Advém de se saber um ser mortal.

Assim, teme morrer sem o querer

Quem bem se sente vivo, afinal

 

Já o anormal medo de viver

Advirá de se saber imortal

Mas temer sofrer, depois de morrer

Ainda mais e de maior mal

 

Se eu temo viver e morrer eu temo

Entrego-me, então, na mão do demo

Duvidando da imortalidade

 

Bem melhor será amar de verdade

Acreditar, sim, na Felicidade                   

Fazer fé no Amor do Pai Supremo

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 1 de Outubro de 2010

Henrique António Pedro