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quarta-feira, 24 de maio de 2023

Poemas da Guerra, de mim e de outrem (Na hora da despedida)

 


Na hora da despedida

 

Não mais poderei esquecer

O Metumbué e o Rovuma

O Lidede e o Nangade

Irei ter saudade

Das saudades que aqui

 Vivi

 

Em Nangololo deixei pensares imprecisos

Alongados como o misticismo do vale azul

O vasto vale de Miteda

Onde ecoaram os acordes primeiros

Deste Humanismo que surge

Ledo como a forma esguia das papaieiras

E se tinge de sangue

Como a casca verde das mangas maduras

 

E aquele Cristo de pau-preto

O Cristo Maconde

A quem sorri ele?

Aos Homens?

Á Guerra?

Oh! O seu sorriso é bondoso

        

Na terra ampla de Mueda

Sofri o céu inconstante

Não fui ali panteísta

Mas amei a terra

 

O salto breve para Nangade

É já o abraço do adeus

É banja sob a árvore grande

Mesmo ali à vista do lago

Já com pressa de partir

Mesmo sem que possa esquecer

O Metumbué e o Rovuma

O Lidede e o Nangade

E de ir a ter saudade

Das saudades que aqui

Vivi

 

 Nangade, 15 de Outubro de 1972

n Poemas da guerra, de mim e de outrem (Editora Piaget-2000)