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sexta-feira, 19 de maio de 2023

Baptismo de fogo

 


Baptismo de fogo

Uma vez...

Lá no reino do régulo Capoca
Maconde
Diletante súbdito do Império Português


Já nem me lembro bem
Como
Quando
E porque  ali fora parar

A navegar
Na História
De boa e má memória

Que me lançou na frente de batalha
De uma guerra fora de tempo
E que a tantos Longe da terra

Serviu de mortalha

 

Era minha intensão

Pois então
Ser herói

Sim
E santo
Talvez

Porque não?


Dormia

O meu corpo suava
E a alma alagava-se do suor da saudade

Reinava o silêncio
No seio da juvenil companhia
Que ousara penetrar a floresta
Preparada para matar
Ou morrer

Tão só para sobreviver

Um estampido

Primeiro

Cavo
Abafado
Seguido de um silvo
Bem referenciado pelo ouvido
Treinado

A seguir
O deflagrar ensurdecedor de uma malina

Granada
De morteiro

Depois outra e mais outra
A terrível fuzilaria
Trágica

Ruidosa
Romaria

Ergo-me
Em incontida inconsciência
Pujante de adrenalina
Grito:
“Filhos da puta!”

E disparo
Disparo
Uma
Duas
Três

Mais e mais rajadas

Contra ninguém
Nem bem sabia sequer
Quem disparava para quem
Nem se alguém atirava contra mim

E foi assim

Pelo baptismo me tornei  cristão
Com água e sal
Ainda criança

E a ferro e fogo
Fui iniciado guerreiro  de Portugal
Homem inteiro

Do heroísmo
Resta-me a poesia

Da santidade
Sobra-me a esperança


Vale de Salgueiro, sábado, 22 de Maio de 2010

Henrique António Pedro