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domingo, 27 de outubro de 2024

Povoando ermos abandonados


Almas há em que nunca floriu uma flor

um sorriso se abriu sequer

 

Desertos despidos de vida e de amor

onde nunca ninguém nasceu

e tão pouco morreu

 

Espaços gelados mergulhados no silêncio do nada

que apenas os poetas pressentem e entendem

 

Locais onde não há paz nem guerra

onde a própria Terra jaz

a tremer de medo de ser perpassada

por uma nova autoestrada

 

Sítios em que a Natureza se faz ouvir com aspereza

desumanizada

onde os poetas soltam ventos

poemas

afectos

saudades

angústias

dilemas

e dores

e fazem sentir suas tempestades interiores

 

É nesses plainos ermados

desarmados

que eu abro caminho

a pé

a passo de criança

à procura de planos interiores

em que haja sinais de fé e de esperança

 

Hiperespaços de poesia e nostalgia

em que a soledade e a solidão

são sinais visíveis de humanização

 

Ermos abandonados que povoo

com os poemas da minha condição

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 13 de Novembro de 2009

Henrique António Pedro