Adormecendo ao sol morno de
Outono
Nestes
dias anormais
esgaravato
raízes de poemas
no húmus
humedecido
pelas
primeiras chuvas outonais
Quando
a Natureza de novo sorri
verdejante
e florida
iludida
travestida
de Primavera
quando
o longo e frio Inverno
já a
espera
Desenterro
apenas dilemas
angústias
e ansiedade
que
exponho ao vento e à chuva
ao sol
morno de Outono
Angústias
sem razão de ser
dilemas
de verdades
ansiedade
sem casualidade
que o
sol não estiola
a
chuva não dilui
nem o
vento as leva para longe
Sou
apena eu que a si mesmo se imola
As
aves passam indiferentes
em
voos sorrateiros
procurando
sementes nos terreiros
e não
poemas
dementes
E os
cães ladram com desnorte
porque
o frémito da minha melancolia
lhe
fere os tímpanos
e lhes
causa frenesia
Ponho-me
então a imaginar como será viver
para
lá da morte
sem
mais sofrer
Delírio
que arrasta consigo todos os meus afectos
para
espaços mais amplos e abertos
mas nem
mesmo assim a minha angústia se dilui
e mais
se concentra
Comprovadamente
já não serei
o que
era suposto ser
nem a
minha alma mais se lamenta
Acabo
por adormecer ao sol morno de Outono
na
esperança de que serei mais do que tudo que sonhei
Vale de Salgueiro, quarta-feira, 4 de Novembro
de 2009
Henrique António Pedro