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domingo, 26 de julho de 2020

A partir das sete horas da manhã de amanhã





Rigorosamente
a partir das sete horas da manhã
de amanhã
hora a que habitualmente me levanto
deixarei de acreditar
e de ficar à espera

Porei de parte ilusões
ambições
fantasias
arrelias
sonhos de glória
e a ideia maior de passar à História
como herói ou santo

Deixarei de ter dúvidas
e de me angustiar

A partir das sete horas da manhã
de amanhã
rigorosamente
hora a que habitualmente me levanto

Limitar-me-ei a viver
a voar livre como os passarinhos
e a assobiar pelos caminhos
como quando era criança
quando ainda não sabia o que era angústia
nem esperança

A partir das sete horas da manhã
de amanhã
deixarei de lamentar a juventude perdida
irei limitar-me a dar e a receber amor
a criar alegria
a espantar a dor
sem esmorecer

Rigorosamente
a partir das sete horas da manhã de amanhã
vou mudar de vida
limitar-me-ei a escrever

poesia


Vale de Salgueiro, sábado, 19 de Dezembro de 2009
Henrique António Pedro





terça-feira, 21 de julho de 2020

Racismo





Racismo é eufemismo
seródio
de ódio
e maldição

O homem livre
liberto ou não
das grades da prisão
não se toma de angústia
nem sente rancor
em seu coração

O preto que é preto
o negro que é negro
têm a brancura do amor no olhar

E o branco que é branco
não tem riscos de carvão na razão
antes a alvura do seu amar

Viver só é vida
sem ameaças de morte
ou sentimentos de má sorte



Vale de Salgueiro, 20 de julho de 2020



segunda-feira, 13 de julho de 2020

A monção não traz a paz









Hoje
Não fui ver o pôr-do-sol
Não se ausentou a guerra de meus olhos
Nem senti que no céu lilás
Surge sempre um novo dia

Caminhei
Mais agitado que o vento
Que raivento varre a terra
Como se sua vontade de paz
E de amar
Fosse maior que a minha

...minha vontade amar é um ar assim raivento!

Hoje
Não fui ver o pôr-do-sol
Não se ausentou a guerra de meus olhos
Nem senti que no céu lilás
Surge sempre um novo dia
Vi que a monção não traz a Paz

...a monção não traz a Paz!

Caminhei
Mais agitado que o vento
Que raivento varre a terra
Minha vontade de paz
E de amar
É um ar assim raivento

...a monção não traz a Paz!
...a monção não traz a Paz!
...a monção não traz a Paz!


Nangade, 28 de Outubro de 1972
in Poemas da guerra, de mim e de outrem (Editora Piaget-2000)