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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Trópicos

 


Nas terras a norte do trópico de Câncer

Como nas terras a sul do trópico de Capricórnio

Em que as quatro estações do ano são bem claras e demarcadas

Quando a Primavera explode em luz, cor e som

Plantas, animais e humanos, transpiram sexualidade por todo o lado

Por cada poro, de todo o jeito e trejeito

No palpitar amoroso de cada aurícula e ventrículo

 

São as borboletas que voam leves, levadas pela brisa do amor

As aves que que abertamente entoam gorjeios de sedução

As abelhas que poisam de flor em flor

(Oh, sublime tentação!)

E acabam mesmo por engravidar as flores

Como mais tarde se verá pelo Outono

Quando as romãs sorrirem despudoradas

E os ouriços arreganharem os dentes aculeados

Para com dor se libertarem das crias, castanhas

 

Entre os trópicos, na chamada Zona Equatorial

Úbere da mais exuberante biodiversidade

Ali onde o Equador marca a linha de maior gravidez da Terra Mãe

Num sufoco de calor, humidade e sexo aberto

Tudo está permanente prenhe de cio, em sexo emergente

Por isso o amor não é aí tão passionalmente ardente

 

Mas…

Para lá do trópico de Capricórnio e para cá do trópico de Câncer

Nas terras em que há Primavera

E se metem o Verão, o Outono e o Inverno de permeio

O amor é mais passional e impetuoso

E talvez por isso mais dissimulado e decoroso

Apenas explícito na estação própria para o namoro e o galanteio

 

Os campos revestem-se, de propósito

De tapetes verdes, maculados de flores

Perfuma-se o ambiente de aromas afrodisíacos

Os riachos murmuram cascatas de deleite

E os adolescentes correm soltos, de mãos dadas

Leves e livres na primavera da puberdade

 

E poderá mesmo acontecer, então, o primeiro beijo

E, quem sabe?

O grito agridoce da perda de virgindade

Que é clamor de prazer e dor, independência e liberdade

 

É também pela Primavera

Nas terras para cá e para lá dos trópicos

Que milhares de borboletas e mariposas

Que hibernaram durante o longo Inverno

E toda a classe de ventos e pólenes

Lançam maior quantidade de feromonas no ar

E nos leitos dos casais

Mil apelos de acasalamento dentro e fora do matrimónio

Embora os filhos apareçam por todos os meses zodiacais

Já não fruto do sonho ou da paixão

Mas obras do acaso e da ambição

 

E assim é, até que no inverno da vida

A arte de amar se envolve em lençóis mais espirituais

 

E assim rodam Terra, animais, plantas e humanos

Todos em torno do Sol

Tudo movido por uma força maior:

- O Amor

 

 

Vale de Salgueiro, 7 de Outubro de 2007

Henrique António Pedro