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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Se eu fosse árvore, amor.




Se eu fosse árvore, amor

 

Se eu fosse árvore, amor

e tu me abraçasses com fervor

os meus poemas seriam flores

as folhas louvores

e os frutos

filhos

 

Floriria na Primavera e daria guarida a todas as aves que tu mimasses

e nos meus ramos quisessem nidificar

 

Deixaria que a aragem agitasse a folhagem

e convidaria os passantes de terras distantes

perdidos na paisagem inclemente

a que sob mim se abrigassem do calor do Sol ardente

e testemunhassem o nosso amor

 

Ah! Mas se eu fosse árvore, amor, e não merecesse o teu cuidado

murcharia, por certo, desolado

pelo Inverno

 

Deixaria que o machado do lenhador

despedaçasse o meu tronco terno

e apartasse os ramos em molhos

para alimentar outros fogos de paixão

que não este que tu ateias em meu coração

com o carvão aceso dos teus olhos

 

Se eu fosse árvore, amor

tu serias a Primavera

  

Vale de Salgueiro, sábado, 17 de Outubro de 2009

Henrique António Pedro


domingo, 4 de dezembro de 2022

Esta minha vida não é só minha

 


Esta minha vida não é só minha

 

Esta minha vida

não é só minha

 

É minha e é dos outros

e é de mais

de muitos mais

 

Dos que me são íntimos

e dos que me são estranhos

 

É de quem me faz amar

e de quem me faz sofrer

 

De quem mora a meu lado

ou de mim vive distante

próximo ou afastado

 

E quantas vezes os mais chegados

não são os mais apartados?

 

E quantas vezes por quem está longe

poderemos até andar

enamorados?

 

Esta minha vida

é a vida de todos que comigo partilham o viver

do por do sol ao nascer

o mistério da noite

e a luz do dia

 

E o fazem com poesia

 

Vale de Salgueiro, 11 de Fevereiro de 2009

Henrique António Pedro

 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

No jardim das paixões desfalecidas

 


No jardim das paixões desfalecidas

 

Flor de Acácia jaz agora

Pálida, silenciosa e fria

Num cemitério vivo

Mundo de mármore e granito

Onde não se ouve um grito

O jardim das paixões desfalecidas

 

Para onde remeto as paixões que arrefecem

Ou são esquecidas

Mas não morrem por completo

 

Flor de Acácia é mais uma estátua vazia

Nua e fria

Uma lembrança esculpida

Petrificada

Sem calor, cor ou sentimento

Sem um único lamento

Sem mais nada

 

Não obstante continuar viva

E a cruzar-se comigo no dia-a-dia

Distante

E arredia

Nem ela respira

Nem eu transpiro

 

Não lhe quero mal

Nem me inspira dó

Nem raiva

Tristeza ou alegria

Apenas e tão só

Esta banal poesia

 

Vale de Salgueiro, 11 de Maio de 2008

Henrique António Pedro


sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Quando a hora da minha morte chegar

 


Quando a hora da minha morte chegar

Quando a hora da minha morte chegar

se é que algum dia vou morrer

 

Quando o sangue se me esfriar nas veias

mais vivas e ardentes se revelarão as minhas  ideias

 

Entregarei o corpo com o coração na mão

à Mãe-Natureza para reciclar

que dele melhor fará

o que bem lhe apetecer

 

Serei húmus, seiva, sangue

vinho

aroma de pinho

erva aromática

papel de gramática

grão de jade

 

Ou tão só

 

 Quem sabe?!

 

Por mim

ainda assim

gostaria de me transformar num pinheiro viçoso

frondoso

altaneiro

num novo ser no seio do novo pinhal

que plantei com as minhas próprias mãos

ao sol do sonho

sem sombra de mal

 

As minhas mãos e os meus braços se converterão em ramos

e os pés em raízes

arreigadas bem fundo nas entranhas da terra

já preparada

à minha espera

saradas todas as cicatrizes

 

E o suor que transpirei agarrado à enxada

será a resina perfumada

que purificará o ar

e dará nova cor e vigor a novos pulmões

e a outros corações

que pulsarão do mesmo Amor

 

Mais vivas e ardentes se revelarão

então

as ideias

 

Elas serão o germe de novos sonhos

as sementes de novas poesias

de mais lúcidos dias

de mais clara Verdade

as palavras-chave da eterna Eternidade

 

Quando a hora da minha morte chegar

se é que algum dia vou morrer…

 

Quem sabe?!

 

Melhor será esperar para ver

 

Vale de Salgueiro, 21 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro 

in Introdução à Eternidade (1.ª Edição, Outubro de 2013)


domingo, 20 de novembro de 2022

Nina Nim

 


Nina Nim


Responde-me calada

com um sorriso de silêncio

uma expressão de nada

 

Com uma mão de não

um gesto de “nim”

 

Nem não nem sim

para mim

 

Oh, como eu a amo

ainda assim!

 

Tanto que dou por mim

a sonhar

a destempo

a interrogar o vento

 

Na esperança

de que virá a amar-me

por fim

 

Não

ou sim?

 

Nem não

nem sim

 

“Nim”!

 

Henrique António Pedro

in Mulheres de amor inventadas (1.ª Edição, Outubro de 2013)


terça-feira, 8 de novembro de 2022

As Três Eras Cósmicas da Criação

 


As Três Eras Cósmicas da Criação


Quiçá

com tanta guerra

e sofrimento imundo

que a Humanidade crucia


Quiçá esteja para breve o advento de um novo mundo

melhor do que este a que assisto

em comprimento da prometida Parusia

a segunda vinda de Jesus Cristo à Terra


Deslumbra-se assim o meu espírito

com a percepção das Três Eras Cósmicas da Criação

e exulta de alegria o meu coração constrito


Primeiro

com a era divinal do Pai Criador que tudo criou

e a nós também


Depois

com a era do Filho, o Cristo, que nos regatou da dor e do mal


E agora

a glória final

a era do Espírito Santo do Absoluto Amor


Amém


Vale de Salgueiro, segunda-feira, 4 de Janeiro de 2010

Henrique António Pedro


segunda-feira, 31 de outubro de 2022

(Uni)Verso

 



(Uni)Verso

 

(Uni) Verso

Verso uno rimado de Amor, de Dor e de Virtude

com que o homem aprender a ler a amar e a sofrer

 

(Uni) Verso

Poema irresoluto de um só verso

caderno do erudito escritor

tem metro do Eterno Absoluto

rima com Infinito

é Deus o seu autor

 

(Uni) Verso

Deu Deus ao homem o dom da poesia

para lhe revelar a (Uni) dade da Verdade na multitude

a (Uni) (Versi) (dade) do Amor na alegria interior

a sagrada Uni (ão) da divina comunhão

 

 (Uni) Verso

(Re) Verso da Razão que apenas no Amor tem resolução

 

Vale de Salgueiro, sábado, 27 de Junho de 2009

Henrique António Pedro


sábado, 29 de outubro de 2022

Soltem os cães!

 


Soltem os cães!

 

Esta maligna mania que o homem insano tem

de acorrentar cães com cadeados e argolas

de aprisionar pássaros em gaiolas

de encerrar peixes em aquários

e encarcerar o seu irmão humano

são ou salafrário

de onde vem?

 

Será que mais segura sente a sua liberdade

sabendo que outrem

a não tem?

 

Ou será que fica aflito

só de pensar

que alguém lhe poderá roubar

o infinito?

 

Deixem as aves voar para outros lugares

os peixes nadar noutros mares

os cães ladrar a outras luas

o cidadão vaguear

livremente

pelas ruas

 

Cantem

batam palmas

abram os corações

soltem os cães

os peixes

os pássaros

os humanos

de todas as prisões

e enganos

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 8 de Setembro de 2010

Henrique António Pedro


quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Porque escrevo poesia?!

 


Porque escrevo poesia?!


A esta angústia maior

que me morde a mente cada dia

responde-me a própria poesia

 

Fico um tanto mais consolado

embora não de todo aliviado

 

Há quem fume e quem beba

mas porque tal me causa tão incómoda azia

a mim dá-me para escrever poesia

 

Para calar angústias estranhas

ideias tresmalhadas

sensações entranhadas

sopro de coisas etéreas

que me desassossegam o corpo

por dentro e por fora

que nem o vento as leva embora

 

 

Para transformar medo em coragem

ódio em amor

prisão em liberdade

raiva em tranquilidade

fracasso em glória

mentira em verdade

saudade em presença

maldade em inocência

indiferença em solidariedade

vício em temperança

fome de sexo em paixão

para aliviar outros males de coração

 

E para sufragar os gritos de milhares de irmãos que sofrem e morrem sem que ninguém lhes valha

para quem a vida é um verdadeiro inferno

tudo isto me cicia a poesia neste dia

 

Como muita gente

certamente

eu escrevo poesia

para me sentir vivo e livre

e sorver o sabor de me saber eterno


E porque alguém a lê

Já se vê!

 

Vale de Salgueiro, 5 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro


 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O poder e a glória que tenho já me bastam

 


O poder e a glória que tenho já me bastam

 

Tudo que em meu redor tem cor

som

vida

luz

beleza

me glorifica


O vento

o mar

os rios

as montanhas

a Natureza

o Sol

e a Lua

criou-as o Criador

para me louvarem em cada dia

enquanto criatura Sua


O poder de amar a quem amo

já me chega

 

A glória de ser amado por quem me ama

já me basta

 

Não quero mais

 

Dispenso a vaidade e a fama

 

Todo o meu poder e glória é poesia

o poder e a glória de amar mais e mais

em louvor ao Criador

 

Vale de Salgueiro, sábado, 15 de Maio de 2010

Henrique António Pedro

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

No outono da vida.

 


No outono da vida.

 

Os seus cabelos dizem não haver

no ar

a mais leve brisa do passado


Desnuda a alma

despenteia ilusões

que são outras tantas paixões

 

E atira beijos

sorrisos e desejos

de mel

já sem asas para voar

 

Que caiem na rua

e são pisados pelos transeuntes

que não se detêm

por não quererem ser

mal amados

 

Também eu reparei nela

postada seminua

à janela

 

Ouvi o seu chamamento para que a fosse libertar


Mas também eu já não levava tempo

para me perder


Já nada mais é

que uma rosa despetalada no Outono da vida


Oh, como é cruel! 

A vida!


Vale de Salgueiro, domingo, 10 de Julho de 2011

Henrique António Pedro


 

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Apenas afectos me ligam ao passado

 



Apenas afectos me ligam ao passado

 

Tudo que vivi

sofri

deixou de me doer

ou de me dar prazer

e o quanto denotam na minha memória

passou à história!

 

Não são as vitórias

as derrotas

os gozos

os prazeres

ou as dores

que me importam

 

Lembro mas esqueci!

 

São tão só os afectos vivos

que me deram vida outrora

 

Amor e amizade que agora me fazem viver de verdade

embora nesta agridoce nostalgia

que floresce em poesia

 

Não é uma saudade saudosa

é uma ansiosa espera do futuro

que me mantem enamorado

de um amor maior

nascituro

 

É a esperança que advém

desses amores que a mim me ligam ao passado

a Fé que tenho que a todos voltarei a amar

também assim

lá no Além

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Henrique António Pedro