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domingo, 26 de dezembro de 2021

Anónima

 



Eu estava ali de passagem

E não ia a fim de me prender

 

Não tão pouco andava à procura de um inopinado prazer

 

Ela olhou-me à hora de jantar

Com um inexpressivo olhar

Um sorriso sedutor

Ambíguo de interesse

E de certa superioridade

 

Eu mirei-a de soslaio

Apreciando a sua elegante sensualidade

Sem lhe dar a entender

De alguma forma me interessar

 

Porém…

 

Na última noite da minha curta estadia

Percebi que a porta do meu quarto

Muito de mansinho se abria

Para deixar passar alguém

 

Era ela!

Fingi que dormia

Enquanto sentia

Que se deitava a meu lado

Qual amante clandestina

 

E me segredava em surdina

Perante o meu espanto

Que poderia matar ou morrer

Mas que preferia viver

 

Que estava ali apenas para amar

E melhor seria

Portanto

Que eu ficasse calado

E a possuísse

Apaixonado

 

Lá teria a sua razão

Pensei para comigo

Melhor seria não forçar o destino

Já que nunca entendi bem

O coração feminino

 

E assim…

 

Mais por ela

Que por mim

Aquela fortuita noite de Verão

Converteu-se em fogo

Num frenesim

Num vulcão

Num dramático acto

De prazer e paixão

 

E só quando ela se retirou

Sorrateira como entrou

Continuando eu acordado

Me apercebi pela janela entreaberta

Que o céu estava lindo

Estrelado

 

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 14 de Novembro de 2008

Henrique António Pedro

 

in Mulheres de Amor Inventadas

Copyright © Henrique Pedro (prosaYpoesia)

1.ª Edição, Outubro de 2013

Depósito legal n.º 364778/13

ISBN: 978-989-97577-2-1



 

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Dessa mulher nada quero saber

 


Não quero saber quem é

nem o que faz

ou que fez

 

É-me indiferente

 

Completamente

 

Não me importa saber se é bonita

catita

feia

fantasma

sereia

inteligente

indigente

morena

liberal

grande

pequena

sensual

bailarina

nórdica, arábica ou latina

 

Duvido até que é disléxica, estrábica e daltónica

porque mal me vê

e nem me fala

 

Sobre essa mulher

não me interrogo

 

Quero lá saber!

 

Apenas me questiono

porque será que só de a ver

me emociono

 

Dessa mulher nada quero saber

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 27 de Fevereiro de 2012

Henrique António Pedro

 

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Olho-me nos olhos


Vejo-me ao espelho

olho-me nos olhos

 

Vejo um sujeito que não sou eu

que não conheço

e que me espanta

 

Não é o meu eu interior

poético ou lírico

que vive de amor

que ali se reflecte

 

É um crâneo calvo

um rosto rugado

um olhar cismado

que nada me dizem de mim

 

E eu

a toda a hora me olho

e me vejo por dentro

faça sol, chuva ou vento

noite e dia

a dormir ou acordado

em tristeza ou alegria

 

E sempre me vejo

com verdade

embora envolto em sonho

e ansiedade

 

Fico

por isso

espantado

por ver-me assim retratado

 

 

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 2 de Março de 2013

 

in Anamnesis

Copyright: Henrique António Pedro

1.ª Edição: Janeiro de 2016


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

AMAR E SOFRER



Tantas vezes nos enganamos

julgando que amamos

só porque sentimos prazer

que o próprio amor

acabamos por perder

o que ainda mais nos faz doer

 

É sofrendo

e amando

que o amor se vai firmando

e vencendo

a dor

 

Para sofrer

bastamo-nos a nós

não precisamos de nada nem de ninguém

e mais sofremos

sós

 

Para amar

porém

precisamos de algo

ou de alguém

 

Vale de Salgueiro, 4 de Fevereiro de 2008

Henrique António Pedro


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Com quem amo me encanto


Amar de alma

ou de coração

é admirar

é admiração

 

Eu admiro quem amo

com quem amo me encanto

me dá contentamento

 

Eu admiro quem amo

quem amo me causa espanto

 

Amo também

de quem

tenho dó

com seu sofrimento me condo-o

 

Só de ver alguém sofrer

a mim mesmo eu me doo

a paixão por compaixão

dói por fora

e dói por dentro

 

Amar

é tão só bem-querer

admirar

encantamento

 

Vale de Salgueiro, sábado, 10 de Abril de 2010

Henrique António Pedro

 

 

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Felizidade


Vista do lado de fora

a felicidade

chama-se alegria

 

Por dentro é contentamento

 

Vê-se num olhar

num sorriso

num abraço

num aperto de mão

no bater do coração

num balbuciar impreciso

numa efémera manifestação de gozo

numa imperceptível expressão facial

 

Até numa lágrima

num embaraço amoroso

numa atitude de virtude

feita de fé e fantasia

num arrebatamento espiritual

 

Muitos a procuram

nos bares e nos estádios

noticiada nalgum jornal

 

Outros no sossego do lar

na religiosidade de um templo

até na aspereza da Natureza

também

 

Poderá andar por aí, sim

mas não é aí que a felicidade mora

na verdade

 

Só dentro de nós ela vive

porém

em qualquer fugaz Feliz Idade

  

Vale de Salgueiro, quarta-feira, 27 de Agosto de 2008

Henrique António Pedro


 

terça-feira, 19 de outubro de 2021

Tantas coisas sem tino a vida tem!


Tantas coisas sem tino a vida tem!

 

Todas têm destino

porém

 

Na paz ou na guerra

cá na Terra ou lá nos céus

sobretudo a morte

meu Deus!

 

Os golpes de má sorte

a dor que não acaba

a felicidade adiada

ou a paixão que chega ao fim

parecem não ter sentido

nem valerem de nada

qual vozes que o vento leva

 

Mas será que é assim?

 

A lembrança delével que o tempo releva

e na memória se tolda

poderá bem ser a transformação indelével

que nos molda

definitivamente

 

Tantas coisas sem tino a vida tem!

 

Perceberemos com o tempo

porém

que tudo o que fica dentro nós

para sempre

tudo levamos para o Além

certamente

 

Vale de Salgueiro, segunda-feira, 24 de Outubro de 2011

Henrique António Pedro

 

domingo, 3 de outubro de 2021

Quando é a alma que nos dói

 



O corpo

quando nos dói

dói-nos por partes

nunca nos dói todo

inteiro

apenas em parte nos dói

 

Dói-nos um pé

uma mão

o peito

o coração

cada um com sua dor

 

Quando sentimos prazer

também o sentimos por partes

com distintas formas de gozar

cada uma com suas artes

 

Sentimos o tacto

o sexo

o sabor

o olfacto

o ouvido

o olhar

 

A alma não tem pernas

nem braços

nem olhos

nem ouvidos

nem mesmo coração

 

Mas caminha

ouve

sofre

e ama

inteira

 

E quando amamos

ou sentimos dó

a alma sofre e ama toda

verdadeira

 

Porque a alma é Única

Una

 

Uma só

 

             Vale de Salgueiro, 15 de Abril de 2008

             Henrique António Pedro


terça-feira, 28 de setembro de 2021

Pecar de amor

 


Pecar de amor 

é procurar no pecado

a virtude

 

É tomar a via do amor

para a Verdade

 

É gozar o prazer que induz

Espiritualidade

 

Jamais o Amor

que acende a luz da Iluminação

gera dor

e a Virtude

produz

ilicitude

 

Múltiplos são os caminhos da vida

e os meandros do destino também

mas um só sentido tem

a virtuosa paixão

 

O sentido único da Revelação

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 25 de Março de 2010

Henrique António Pedro

(Imagem do Google)

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

O único reparo que faço a Deus


O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para poderem substituir as estrelas no céu

sempre que alguma esmorece

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para poderem tapar o Sol quando nos ofusca e aquece demais

e para dar mais brilho à Lua

sempre que a noite obscurece

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para as mães poderem acariciar os seus filhos

quando estão ausentes.

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para poderem plantar árvores e hortas

nos outros planetas que giram no sistema solar

mas sem desprezar o seu lar

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para num só abraço poderem abraçar

toda a Humanidade

 

O único reparo que faço a Deus

é não ter dado aos homens braços mais compridos

para poderem apertar a Sua mão

lá no céu

a partir

daqui

da Terra

 

Vale de Salgueiro, quinta-feira, 13 de Fevereiro de 2014

Henrique António Pedro


 

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Que outro Ar? Que outra Água? Que outro Amor?


Que outro Ar

poderemos nós inventar

para respirar?

 

Que outra Água

poderemos nós conceber

para beber?

 

Que outra Verdade

poderemos nós estabelecer

para nos governar?

 

Que outro Amor

poderemos nós idealizar

para amar?

 

Que outra Terra

poderemos nós encontrar

para viver?

 

Poluímos o ar

e a água

 

Corrompemos a verdade

viciamos o Amor

 

Impomos a mentira

a dor

a fome

o ódio

o vício e a guerra

não separamos o Bem do Mal

 

Destruímos a Terra

 

Estamos à beira de nós autodestruir

 

Resta-nos reestabelecer

a limpidez da Água

a leveza do Ar

a força da Verdade

a pureza do Amor

a beleza da Terra

para sobreviver

 

Fundar em nosso coração

uma nova Civilização

de Paz universal e eterno Amor

 

Vale de Salgueiro, terça-feira, 21 de Abril de 2009

Henrique António Pedro