Foi a primeira coisa que fiz mal acordei
Ir espreitar
sorrateiro
pela janela
desejoso de que o Inverno não tivesse ainda
terminado
Pretendendo que o vento
e a chuva
e o frio
obstassem a que saísse de casa
e pudesse ter uma justificação
para permanecer amuado com o destino
Estava querendo continuar fechado dentro de mim
trancado por dentro
mergulhado na mais fria solidão interior
Sentado
impávido
imóvel
com as mãos a espremer o crânio
capaz de esborrachar o cérebro
e de abafar qualquer ideia de liberdade
Lá fora, porém
está um sol radioso
os campos já se recobrem de verde
ouve-se o trinado dos passarinhos
e já explodem em cor, som e luz os primeiros
acordes da Primavera
Saio de um salto de dentro da minha nostalgia
mergulho no seio da liberdade
Todos os dias são assim
para mim
um convite a que saltemos de dentro de nós
logo pela manhã
afastemos o mau pensamento
e mergulhemos na alegria
Mesmo se chove
faz frio
e sopra o vento
Todos os dias acontece o milagre da poesia
Vale de
Salgueiro, quarta-feira, 17 de Março de 2010
Henrique António Pedro
