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sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Alto e pare o baile!


Soam as badaladas derradeiras

rasgam-se as folhas restantes do calendário

cumpre-se o fugaz fadário

nada muda na verdade

tão pouco as brincadeiras

 

Quando mais animado o baile vai

estouram garrafas de champanhe

esparrame da insanidade

das gentes alheadas da realidade

que em fantasias se esvai

 

Nas ruas estalam foguetes

e estouram balões

há gritos, apitos, ruídos dementes

joguetes de multidões

 

Nos meus ouvidos há outros ruídos

porém

tristes acordes tangem meu coração

que calar não consigo

sequer afastar da minha mente

também!

 

São gritos lancinantes de esfacelados de guerra

de mulheres maltratadas

é o ranger de dentes dos oprimidos

a dor dos explorados e perseguidos

o sofrer de mendigos e sem abrigo

dos que vegetam nos esgotos torpes

das metrópoles ditas civilizadas

 

Não me contenho e grito:

-Alto e pare o baile!

O salão de festas emudece

A minha dor recrudesce

 

Retiro-me silencioso

pesaroso

circunscrito

levando pela mão a mulher amada

como eu igualmente consternada

 

Saímos porta fora

nada mais nos resta

para nós a festa está terminada

 

Embora no meu coração more a esperança fagueira

de que meus versos hora a hora

explodirão sem temor

como bombas de amor por sobre a Terra

e pousarão qual pombas de paz

aonde lavra a guerra

e a humanidade jaz

sepultada

prisioneira

-Alto e pare o baile!

 

Vale de Salgueiro, 31 de Dezembro de 2007

Henrique António Pedro