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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Na Praça Martim Moniz

 



Na Praça Martim Moniz

(Do meu baú de recordações)

 

Só me não me perdi

por um triz

 

Amei-a eternamente

Mal a vi

Nos breves instantes

Em que como ela

Esperava o eléctrico

Na Praça Martim Moniz

 

Os seus olhos negros

Tolheram-me por completo a visão

E porque eram negros e brilhantes

Não me deixaram ver nada mais

 

Foi maquinalmente que para ela dirigi meus passos

E percebi que também ela aguardou

Que eu lhe dirigisse a palavra

 

Passavam inúmeros eléctricos

Que nos levavam aos sítios para onde íamos

 

Mas nenhum de nós se importou

Nem sentiu pressa em partir

 

Tolhido eu pela luz negra

Dos seus olhos negros

E pela desenvoltura da sua trança

Presa, ela, à minha expectativa

Em que residia a sua esperança

 

Amámo-nos eternamente

Naqueles breves instantes

Até que por fim

Ela decidiu partir

 

Venci-me

Não a segui

Ainda assim

 

O eléctrico que tomou

Deixava-me a mim

A meio do caminho

 

Lisboa (Martim Moniz), Outubro de 1970

Henrique António Pedro