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terça-feira, 6 de maio de 2025

Afago a cabeça. Apalpo a alma


(Revisto)


Mimoseio-me numa tentativa de me encontrar

mas não me encontro

nem é a mim que tacteio

 

Não me enxergo no crânio escalvado

acabado de sair do barbeiro

mas sinto uma sensação suprema

que me percorre o corpo inteiro

me pacifica e me acalma o coração

embora esprema desesperadamente a Razão

 

Transfiro-me para as cabeças dos dedos da mão

com que apalpo a caixa craniana

em que se aloja todo o meu encéfalo

 

Ainda assim a mim me sinto

no curto-circuito que se estabelece

entre a pele dos dedos

e a Mente sucedânea

angustiada

 

Dá-me prazer ficar assim

por momentos

a andar à roda

atrás de mim

como pescadinha de rabo na boca

de olhos vendados

a jogar comigo à cabra-cega

jogo de paciência

e demência

 

Que melhor prova da minha existência

posso encontrar

se é a minha alma

a minha essência

que a si própria se apalpa

sem a si mesma se apalpar?!

 

Vale de Salgueiro, sexta-feira, 12 de Junho de 2009

Henrique António Pedro 

in Anamnesis (1.ª Edição: Janeiro de 2016)