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sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Abro a porta de trás da minha alma

 


Abro a porta de trás da minha alma

que dá directamente para o mundo

 

Ouço sons ladrados no silêncio da noite

pios fantasmagóricos de aves noctívagas

tiros

sons de pneus a chiar

sirenes de ambulâncias

choros de crianças

gritos de fome e de dor

clamor de revolta

cães à solta

insultos

blasfémias

ódios gritados

amores martirizados

violências domésticas

ruídos de discotecas

 

Vejo milhares de mãos entendidas

no umbral

tentando forçar a entrada

sem nada me pedir

 

Dou-lhes poemas

do meu jantar

frugal

para eles caviar

certamente

 

Nada mais tenho para lhes dar

 

Reluzem luzes semeadas na escuridão da Terra

tremeluzem luzeiros na obscuridade do Firmamento

 

Acendem-se angústias na penumbra do meu ser

tenho o coração em chaga viva

a arder

 

Fico pregado no Crucifixo que trago dependurado ao peito

ofusca-me a luz do arrebol

 

Para quando o Apocalipse, Senhor?

Já no próximo eclipse

do Sol?

 

Misericórdia!

Já?!Assim tão de repente?

 

Dai-nos ao menos tempo para vestir a Lua

que anda nua

inocente

 

Vale de Salgueiro, Terça-feira 3 de Junho de 2008

Henrique António Pedro